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Maioria das pessoas com hepatites virais desconhece condição

Hepatites virais atingem o fígado causando alterações leves, moderadas ou graves, e são silenciosas - iStock
Hepatites virais atingem o fígado causando alterações leves, moderadas ou graves, e são silenciosas - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 01/07/2021, às 09h00

O Instituto Brasileiro de Estudos do Fígado (Ibrafig) lança hoje (1º) a campanha nacional “Não Vamos Deixar Ninguém Para Trás”, abrindo as ações do Julho Amarelo, mês dedicado à conscientização das hepatites virais. O objetivo é incentivar o diagnóstico dessas doenças e encaminhar os portadores para tratamento, para, dessa forma, cumprir a meta de eliminação dessas hepatites até 2030, como defendem a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a Opas (Organização Panamericana de Saúde).

As hepatites virais são um grave problema de saúde pública não só no Brasil como no mundo todo. Trata-se de infecções que atingem o fígado causando alterações leves, moderadas ou graves e, na maioria das vezes, são silenciosas, ou seja, não apresentam sintomas. Em outros casos, podem se manifestar causando cansaço, febre, mal-estar, tontura, enjoo, vômitos, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras.

Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil as hepatites virais mais comuns são causadas pelos vírus A, B e C. Existem ainda, com menor frequência, o vírus da hepatite D (mais comum na região Norte do país) e o vírus da hepatite E, que é menos comum no Brasil, sendo encontrado com maior facilidade na África e na Ásia.

Fibrose e câncer

Com frequência, infecções causadas pelos vírus das hepatites B ou C tornam-se crônicas. O preocupante é que, por nem sempre apresentarem sintomas, grande parte das pessoas não sabe que tem a doença, o que pode fazer com que ela evolua sem o devido diagnóstico. Este avanço irá comprometer o fígado, causando fibrose avançada ou cirrose, e pode levar ao desenvolvimento de câncer e à necessidade de transplante do órgão.

“Na maioria dos casos, as pessoas não apresentam sintomas durante um longo período da infecção, ou mesmo décadas, até desenvolverem complicações. Nesta fase avançada, o paciente pode apresentar aumento do volume abdominal (ascite); edema (inchaço) nos membros inferiores; pele e olhos amarelados (icterícia), confusão mental, sonolência e fala arrastada (encefalopatia), vômitos e/ou fezes escurecidas (sangramento intestinal). A doença já está instalada e em fase grave”, afirma Paulo Bittencourt, hepatologista e gastroenterologista, além de presidente da Ibrafig.

Segundo a Opas, cerca de 1,4 milhão de pessoas morrem anualmente no mundo pelas doenças, seja por infecção aguda, câncer hepático ou cirrose. Só no Brasil, há 3 milhões de novos infectados ao ano. A taxa de mortalidade da hepatite C, por exemplo, pode ser comparada às de HIV e tuberculose. Juntas, as hepatites B e C respondem por cerca de 74% dos casos notificados de hepatites virais no país - sozinha, a hepatite C é responsável por mais de 76% das mortes das hepatites virais, no período de 2000 a 2018.

A hepatite C é transmitida principalmente pelo compartilhamento de objetos perfurocortantes. E, como foi dito, a maioria da população infectada desconhece a condição e a provável fonte de contaminação. A boa notícia é que existem testes rápidos disponíveis no SUS para a detecção da infecção pelos vírus B ou C.

Sudeste tem mais casos

Segundo o mais recente Boletim Epidemiológico de Hepatites Virais 2020, do Departamento de Doenças de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis, da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, a Região Sudeste é a que mais concentra casos dos vírus B e C, e a maioria dos portadores das doenças são do sexo masculino.

Em 2019, segundo o boletim, o ranking das capitais com as maiores taxas de detecção de hepatite C que apresentaram taxas superiores à nacional (10,8 casos por 100 mil habitantes) foram: Porto Alegre-RS (84,4 casos por 100 mil habitantes) com a maior taxa entre as capitais, seguida por São Paulo-SP (31,5), Curitiba-PR (22,7), Rio Branco-AC (18,2) e Boa Vista-RR (14,7).

O Ministério da Saúde afirma que todas as pessoas precisam ser testadas pelo menos uma vez na vida para esses tipos de hepatite, sendo que populações mais vulneráveis devem ser testadas periodicamente. Infelizmente, a hepatite B não tem cura, porém, há vacina disponível gratuitamente no SUS, nas Unidades Básicas de Saúde, assim como tratamento com medicações que interrompem a progressão da doença. Já a hepatite C não dispõe de uma vacina, mas há medicamentos que possibilitam a cura.

Segundo dados atuais, em 2019 foram tratadas 36.658 pessoas com hepatite C. Já em 2020 houve uma queda de quase 50%, com 19.219 se tratando. As médias mensais também vêm caindo: 3.054 em 2019, 1.601 em 2020 e 1.116 em 2021. Provavelmente, os números estão caindo por conta da pandemia do novo coronavírus, que continua em alta no país, e deixa as pessoas inseguras em procurar tratamento mesmo para doenças já conhecidas.

O Ibrafig pretende mobilizar a sociedade civil durante todo o mês de julho e se unir a grupos que apoiam populações de alto risco, como pessoas em situação de rua ou privadas de liberdade, para encaminhamento para testagem e tratamento. O instituto também reforça que todo mundo no Brasil, com idade acima de 40 anos, tem risco de ter a doença e deve ser testado ao menos uma vez na vida.

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Todo brasileiro com idade acima de 40 anos, tem risco de ter a doença e deve ser testado ao menos uma vez na vida - iStock

Devem fazer o teste para hepatite C, entre outras:

-Pessoas com idade igual ou superior a 40 anos; ou que receberam transfusões de sangue ou transplantes de órgãos antes de 1993, ou usuárias de drogas injetáveis, ou que compartilham agulhas injetáveis, ou submetidas a procedimentos de tatuagens, piercings ou de escarificação, sem o devido controle sanitário ou com infecção pelo HIV, ou com parceiros sexuais com pacientes com diagnóstico de HCV;
-Presidiários e pessoas com antecedente de encarceramento;
-Pessoas com múltiplos parceiros sexuais, ou com múltiplas doenças sexualmente transmissíveis;
-Pessoas que admitem elevado consumo de álcool.

“Ainda tem gente que pensa que é melhor não fazer o teste, senão descobre uma doença, pois dizem que quem procura acha. Minha resposta para estas pessoas: melhor descobrir uma doença em fase inicial com alta chance de cura, com tratamento coberto pelo SUS, do que encarar futuramente hospitalizações repetidas por complicações da cirrose, uma fila de transplante de fígado, ou terapia paliativa para câncer de fígado. A gente tem a oportunidade de varrer esta doença do mapa, basta informação, atenção e cuidado com a saúde”, finaliza Bittencourt.

Para saber onde realizar o teste, o interessado pode ligar para 0800-882 8222 ou visitar o site www.tudosobrefigado.com.br. Para acompanhar vídeos e novidades na campanha nas redes sociais, basta seguir @tudosobrefigado.

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