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Jovens que enfrentaram situações difíceis têm mais inflamação

Imagem Jovens que enfrentaram situações difíceis têm mais inflamação

Jairo Bouer Publicado em 06/11/2019, às 20h43 - Atualizado às 20h45

A relação entre estresse psicológico e transtornos como depressão e ansiedade é algo bem estabelecido. Mas alguns estudos vêm mostrando que enfrentar situações difíceis também pode resultar em outros problemas de saúde. Ainda mais quando a adversidade ocorre na infância ou na adolescência, fases em que ninguém tem maturidade suficiente para lidar com certos tipos de sofrimento.

Esta semana, a Jama Pediatrics (periódico da Associação Médica Americana) trouxe um estudo que reforça essa conexão. Segundo o trabalho, crianças e adolescentes expostos a situações de violência ou estresse têm maiores níveis de inflamação crônica ao completar 18 anos de idade. Isso significa que eles podem ter a imunidade alterada, ficar doentes com maior facilidade e até morrer mais cedo por causa dessas experiências.

A pesquisa contou com 1391 jovens do Reino Unido, e envolveu pesquisadores das áreas de psiquiatria, psicologia e neurociência de universidades de prestígio, como a Duke, nos Estados Unidos, a King`s College London, em Londres, e o hospital universitário Amager and Hvidovre, na Dinamarca.  A equipe utilizou como referência a presença de certas substâncias no sangue que indicam um quadro inflamatório.

O estudo considerou seis tipos diferentes de adversidades: testemunhar violência entre pai e mãe, ser humilhado por pares (bullying), receber maus-tratos de um adulto, abuso sexual, abuso emocional e negligência. Os participantes foram avaliados aos 5, 7, 10 e 12 anos de idade. A maioria das crianças, ou 72,2%, não tinha enfrentado adversidades graves na infância. Mas 21,4% relataram uma experiência desse tipo, 4,2% relataram duas e 2,2%, três ou mais.

Durante a adolescência, entre os 12 e 18 anos de idade, foram avaliadas as seguintes situações deflagradoras de estresse: crime; cyberbullying; violência cometida por pares, irmãos ou familiares; abuso sexual, maus-tratos ou negligência. Nessa fase, 63,8% não tiveram situações graves para relatar; 19,8% relataram uma experiência; 9,4%, duas, e 7%, três ou mais.

Todos esses resultados mostram duas coisas: em primeiro lugar, que crianças e adolescentes são expostas a situações de violência, abuso e negligência com uma frequência maior do que muita gente imagina. Em segundo, que investir em orientação familiar e suporte psicológico a esses jovens é uma questão de saúde pública.