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Gestante que vive em bairro “caminhável” ganha menos peso, diz estudo

Pesquisa alerta no sentido de políticas públicas em urbanismo para melhorar o acesso das gestantes a parques e áreas de lazer - iStock
Pesquisa alerta no sentido de políticas públicas em urbanismo para melhorar o acesso das gestantes a parques e áreas de lazer - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 23/02/2022, às 14h00

Pesquisadores da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, em um dos primeiros estudos a examinar a ligação entre as características da vizinhança e o ganho de peso durante a gravidez, descobriram que as grávidas que vivem em “bairros caminháveis” na cidade de Nova York têm menores chances de ganho de peso gestacional excessivo do que aquelas que moram em outros lugares da cidade.

Os pesquisadores criaram o termo “caminhabilidade do bairro” para se referir às características da forma urbana que apoiam e favorecem a caminhada e é definida por critérios que incluem densidade populacional, mistura de uso do solo, densidade da infraestrutura de transporte público e conectividade das ruas. Segundo o estudo, moradores de bairros caminháveis demonstraram praticar mais caminhadas, maior atividade física geral e menor índice de massa corporal (IMC); essas regiões estão associadas a um melhor controle de açúcar no sangue entre pessoas com diabetes tipo 2.

O estudo foi realizado em parceria com pesquisadores do Departamento de Saúde e Higiene Mental da cidade de Nova York e usou dados de registros de nascimento do ano de 2015 para examinar as influências de nível de bairro no ganho de peso excessivo na gestação. Usando informações de prontuários médicos, o departamento compilou dados sobre todos os nascidos vivos na cidade, incluindo informações básicas de saúde e demográficas para a gestante e estatísticas de resultado do parto (por exemplo, peso ao nascer e idade gestacional).

Na amostra de 106.285 partos, 42% das gestantes apresentaram ganho de peso excessivo e 26% ganho de peso inadequado. Gestantes que vivem em bairros classificados entre os mais pobres da cidade tiveram uma chance adicional de 17% maior de sobrepeso excessivo.

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Ganho de peso excessivo na gravidez está associado a maior risco de complicações - iStock

Riscos de complicações

“O ganho de peso excessivo ou inadequado durante a gravidez apresenta inúmeros riscos à saúde, tanto para gestantes quanto para crianças. Nesse período, esse ganho está associado a um maior risco de complicações, incluindo hipertensão relacionada à gravidez (pré-eclâmpsia), diabetes gestacional e maior retenção de peso pós-parto em longo prazo. O problema também está associado ao risco de asma e obesidade infantil”, explica Fernando Prado, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Neo Vita.

O trabalho, publicado na revista Obesity no final de janeiro, é um alerta no sentido do desenvolvimento de investimentos e políticas públicas em urbanismo para melhorar o acesso das gestantes a locais (parques e áreas de lazer) com o objetivo de estimular e facilitar a prática de exercícios físicos.

“Dados os benefícios duradouros de gestações saudáveis para a saúde dos pais e da criança, essa pesquisa fornece um impulso adicional para o uso do design urbano e redução da pobreza para apoiar o peso saudável e reduzir o risco de ganho excessivo de peso gestacional e riscos à saúde”, explica o médico.

Por outro lado, ele lembra que as grávidas que moram em bairros mais bem classificados para “caminhabilidade” tiveram 13% menos chances de ganho de peso excessivo. Esses achados estão alinhados com estudos anteriores na cidade de Nova York, que descobriram que tanto a pobreza do bairro quanto a capacidade de caminhar predizem o IMC na população em geral.

Políticas públicas

“A caminhada na vizinhança provavelmente está associada a um menor risco de ganho de peso devido a diferenças de comportamento durante a gravidez. A quantidade de exercícios que as grávidas fazem vem de atividades de baixo impacto, como caminhar, por isso é fundamental que elas tenham acesso a parques e locais de boa infraestrutura para esse tipo de atividade. Apesar de ser um estudo feito em solo americano, os resultados deveriam, com certeza, impactar as escolhas dos governantes de todos os lugares com relação às políticas públicas de urbanismo”, afirma o médico.

Questionado se a grávida pode trocar a caminhada pela vizinhança ou o passeio ao parque, se onde ela morar isso não for possível, ou por ir à academia ou praticar outras atividades, Prado comenta: “Atividades em academia ou com personal trainer não é uma realidade para todas as pessoas. Mas para quem tem condições é algo viável e uma maneira de compensar a falta de áreas de lazer na cidade. Existem diversas séries de treinamento e academias especializadas para gestantes, onde elas podem fazer exercícios de forma segura e controlada por profissionais quando não se tem um parque próximo”.

Outra opção seria caminhar na rua, o que pode desencorajar algumas pessoas, mas o médico afirma que isso também vale: “Claro que a poluição é um impedimento,  melhor procurar uma área que não tenha trânsito e ônibus e caminhões, que são bastante poluentes; prestar atenção à calçada, que pode estar quebrada; não usar o celular enquanto caminha, pois isso distrai e aumenta os riscos de lesões, de tropeçar, cair até em buracos. Vemos muito isso acontecer”. E ele aconselha:

Usar um calçado confortável, pois gestante não deve usar salto por risco de lesão de ligamento tanto de tornozelo quanto de joelho. Melhor calçar um tênis confortável, que possa favorecer a caminhada sem causar problemas ortopédicos”.

Fonte: Fernando Prado é médico ginecologista, obstetra e especialista em reprodução humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido.

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