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Exposição crônica a microplásticos danifica neurônios, aponta estudo

As partículas estão agora disseminadas nos oceanos, rios, solo e até mesmo no ar - iStock
As partículas estão agora disseminadas nos oceanos, rios, solo e até mesmo no ar - iStock

Redação Publicado em 27/08/2025, às 10h00

Um estudo com ratos sugere que a exposição a microplásticos pode comprometer a barreira hematoencefálica, induzir estresse oxidativo no cérebro e danificar neurônios. A exposição a microplásticos envolveu a administração oral de polietileno de baixa densidade (PEBD) suspenso em água por três e seis semanas. A pesquisa foi publicada na Molecular Neurobiology.

Microplásticos são pequenas partículas de plástico, normalmente com menos de cinco milímetros de tamanho, que se originam da decomposição de resíduos plásticos maiores ou são fabricadas intencionalmente para uso em produtos como cosméticos e abrasivos industriais. Essas partículas estão agora disseminadas nos oceanos, rios, solo e até mesmo no ar, tornando-as difíceis de evitar.

Os microplásticos podem ser ingeridos por vida marinha, pássaros e outros animais, entrando na cadeia alimentar e potencialmente representando riscos à saúde humana. Essas partículas são altamente resistentes à degradação natural, persistindo no meio ambiente por décadas ou até séculos. Fontes comuns incluem plásticos descartáveis, fibras têxteis sintéticas, desgaste de pneus e materiais de embalagem.

Água doce

O autor do estudo, Ghasem Forutan, e seus colegas observam que a contaminação da água doce é uma das principais vias de entrada de microplásticos no corpo humano. Partículas de microplástico suspensas na água são consumidas por organismos aquáticos, onde tendem a se acumular. Quando os humanos comem esses organismos — por exemplo, ao consumir peixes —, eles também ingerem os microplásticos acumulados. No entanto, os efeitos da ingestão de microplásticos na saúde humana ainda são pouco compreendidos.

Para explorar esses potenciais efeitos, os autores conduziram uma série de experimentos em ratos para examinar se a ingestão crônica de microplásticos afeta a saúde cerebral. Eles se concentraram nos efeitos neurotóxicos, particularmente no potencial dos microplásticos de romper a barreira hematoencefálica, gerar estresse oxidativo e danificar os neurônios. A barreira hematoencefálica é uma camada protetora de células que regula quais substâncias podem passar da corrente sanguínea para o tecido cerebral.

Em seus experimentos, os pesquisadores utilizaram polietileno de baixa densidade (PEBD), um tipo comum de plástico. Uma das principais características dos microplásticos é sua densidade. Plásticos com maior densidade, como o PVC (policloreto de vinila), tendem a afundar na água e podem ser ingeridos por espécies que vivem no fundo. Em contraste, plásticos de baixa densidade, como o PEBD, flutuam na superfície, o que os torna mais propensos a serem consumidos por animais que se alimentam na superfície. Essas partículas flutuantes também podem adsorver poluentes tóxicos do ambiente, potencialmente servindo como transportadores de substâncias nocivas para os tecidos biológicos.

Como foi a pesquisa

Os experimentos foram conduzidos em 80 ratos Wistar machos (linhagem de ratos de laboratório albinos e de olhos vermelhos), cada um com aproximadamente seis semanas de idade e pesando em média 180 gramas no início do estudo. Os ratos foram divididos em quatro grupos principais, que foram posteriormente divididos em subgrupos para análises específicas, incluindo avaliações do conteúdo de água no cérebro, permeabilidade da barreira hematoencefálica, marcadores bioquímicos e histopatologia.

Dois grupos foram monitorados por três semanas e dois por seis semanas. Em cada par, um grupo serviu como controle e recebeu apenas água bidestilada por meio de uma agulha de gavagem (instrumento para a administração precisa de substâncias líquidas). Os grupos experimentais receberam a mesma água, mas com partículas microplásticas de LDPE em suspensão, menores que 25 micrômetros de diâmetro, na dose de 10 mg/kg de peso corporal por dia. A administração por gavagem envolve a administração de substâncias diretamente no estômago por meio de uma agulha especializada inserida no esôfago, garantindo uma dosagem consistente e controlada.

Resultados

Os resultados indicaram que a integridade da barreira hematoencefálica foi significativamente comprometida nos ratos expostos aos microplásticos de LDPE, após três e seis semanas de exposição. Esses ratos também apresentaram estresse oxidativo elevado, conforme demonstrado por marcadores bioquímicos.

Além disso, os níveis de fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF) — uma proteína essencial para o crescimento, função e sobrevivência neuronal — foram significativamente reduzidos no grupo de exposição de seis semanas. As análises histológicas revelaram sinais de dano neuronal, incluindo encolhimento celular e necrose, nos ratos expostos aos microplásticos.

“Esses achados demonstram que a exposição crônica a MPs [microplásticos de polietileno de baixa densidade] de LDPE prejudica a integridade da barreira hematoencefálica, aumenta o estresse oxidativo e induz dano neuronal em ratos. Os resultados destacam o potencial neurotóxico dos MPs [microplásticos] e enfatizam a necessidade de mais pesquisas para abordar seus possíveis riscos à saúde”, concluíram os autores do estudo.

O estudo contribui para o conhecimento científico sobre os efeitos na saúde da ingestão de microplásticos de baixa densidade. No entanto, vale ressaltar que o estudo foi realizado em ratos, não em humanos. Embora ratos e humanos compartilhem muitas semelhanças fisiológicas, eles ainda são espécies muito diferentes. Os resultados em humanos podem não ser idênticos.

Fonte: PsyPost