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Estudo mostra como o barulho prejudica a saúde mental

Quem vive exposto à poluição sonora tem saúde mental mais precária, segundo estudo - iStock
Quem vive exposto à poluição sonora tem saúde mental mais precária, segundo estudo - iStock

O barulho atrapalha qualquer pessoa, mas a poluição sonora pode ir muito além do incômodo. Um estudo realizado na Austrália e divulgado no mês passado avaliou a relação entre o excesso de ruídos e a saúde mental de 31 mil pessoas, que foram acompanhadas de 2001 a 2019. Não deu outra: quem ficava mais exposto à poluição sonora ambiental, aquela gerada por carros, aviões, trens e pela indústria, apresentava saúde mental mais precária.

Mas o estudo vai além. A equipe de pesquisadores mostrou que quem mora de aluguel, pais solteiros e moradores de áreas desfavorecidas socioeconomicamente relatam mais exposição a ruídos ambientais, sobretudo relacionados ao tráfego. Essas mesmas pessoas apresentam pior saúde mental quando comparadas com aquelas que não são afetadas pelo excesso sonoro de forma cotidiana, e com aquelas que, ao longo do tempo, passaram a se expor menos a esse tipo poluição.

Os principais transtornos mentais associados à exposição frequente de poluição sonora ambiental são ansiedade e depressão, além de estresse e irritabilidade. Em crianças, população mais sensível ao excesso de barulho, as complicações da saúde mental também podem repercutir com transtornos cognitivos e no aprendizado, bem como serem associadas ao Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).

Esses novos dados reforçam os resultados de estudos anteriores. Em 2020, um grupo de pesquisadores ingleses fez o levantamento de outras publicações científicas que tratavam de temas correlatos e publicaram um artigo evidenciando achados semelhantes aos atuais – a exposição cotidiana ao barulho foi associada a diversas condições, como demência e, numa discreta proporção, câncer.

Confira:

Uma questão de planejamento urbano

Esse recorte evidencia como a qualidade de saúde mental se relaciona à qualidade de vida e ao desenvolvimento socioeconômico. Em áreas residenciais mais nobres, a exposição a ruídos é menor e, portanto, os moradores dessas regiões apresentam mais qualidade relacionada à saúde mental. Naquelas regiões economicamente mais bem valorizadas, mas onde também há poluição ambiental sonora, os imóveis são mais bem planejados para que os sons externos sejam minimizados dentro da residência e, então, interferir menos na qualidade de vida e na saúde dos moradores dali.

Por outro lado, é nas regiões menos desenvolvidas e com casas mais simples que se concentram tanto os maiores índices de ruído quanto pessoas com saúde mental mais afetada pelo som. Com o aumento do número de pessoas vivendo em áreas urbanas, sobretudo em regiões periféricas, mais pessoas poderão ser afetadas pela poluição sonora, já que esses locais recebem mais gente e concentram as fontes de ruído. Além disso, com o aumento populacional urbano, também há necessidade de readequação do sistema de transportes urbanos em virtude do aumento da demanda. Com mais tráfego, mais poluição sonora é emitida.

*Leo Fávaro é acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo

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Léo Fávaro

Léo Fávaro

Ex-advogado, jornalista e, atualmente, acadêmico de Medicina da Universidade Federal do Espírito Santo. Escreveu por bastante tempo sobre música, cultura pop e moda, e atualmente se dedica a escrever sobre saúde. Está nas redes sociais como @leofavaro