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É possível se queimar de sol mesmo em um dia nublado?

Mesmo em dias nublados, use protetor solar e óculos escuros que bloqueiem os raios UV - iStock
Mesmo em dias nublados, use protetor solar e óculos escuros que bloqueiem os raios UV - iStock

Redação Publicado em 02/03/2022, às 10h00

Uma alta porcentagem de luz ultravioleta (UV) emitida pelo sol penetra através das nuvens mesmo em dias nublados. As pessoas devem tentar proteger a pele como fariam em um dia ensolarado. A queimadura solar ocorre devido à exposição excessiva à luz solar. Essa exposição é uma das principais causas de câncer de pele, como carcinoma basocelular, carcinoma espinocelular e melanoma.

O sol emite luz ultravioleta, que pode penetrar na camada externa da pele e causar alterações, resultando em queimaduras. A queimadura solar pode acelerar a taxa de envelhecimento da pele. Existem três tipos de luz UV: UVA, UVB e UVC. Cada uma delas tem diferentes comprimentos de onda e diferentes consequências para a pele.

Uma pessoa pode tomar precauções para evitar queimaduras solares, reduzindo a exposição à luz UV e protegendo a pele. Porém, será que podemos ter queimaduras solares em um dia nublado? Quais são os sintomas da queimadura solar e como podemos nos proteger contra a exposição? E quais os fatores de risco para queimaduras solares? Confira as respostas a seguir.

Podemos nos queimar em um dia nublado?

Sim, mesmo em dias nublados, o sol ainda emite luz UV, que penetra nas nuvens e pode resultar em queimaduras solares. “Isso ocorre porque as nuvens absorvem por volta de 10% da radiação ultravioleta, ou seja, apesar de o dia não estar ensolarado, ele tem praticamente a mesma intensidade de radiação ultravioleta que um dia megaensolarado”, destaca a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.

Ou seja, mais de 90% dos raios UV podem passar por uma cobertura de nuvens leve e causar queimaduras solares. Os níveis de UV tendem a ser altíssimos sob céus sem nuvens. No entanto, as nuvens claras oferecem pouca proteção e até aumentam os níveis de UV devido a um efeito chamado espalhamento. Muitas superfícies também refletem a radiação UV, o que aumenta os níveis gerais de UV que uma pessoa experimenta:

  • grama, solo ou água refletem menos de 10% da radiação UV;
  • areia reflete cerca de 15%;
  • espuma do mar reflete cerca de 25%;
  • neve fresca quase duplica a exposição UV de uma pessoa.

Tipos de radiação UV

Há três diferentes tipos de luz UV, que têm comprimentos de onda variados. Eles são:

  • Ultravioleta A (UVA): tem um comprimento de onda de 315 a 399 nanômetros (nm) e está associado ao envelhecimento da pele;
  • Ultravioleta B (UVB): tem um comprimento de onda de 280-314 nm e está associado a queimaduras solares;
  • Ultravioleta C (UVC): tem um comprimento de onda de 100–279 nm.

A luz UVA compõe 95% da luz UV que atinge a Terra. A UVB é o principal tipo de luz UV que causa queimaduras solares. A camada de ozônio absorve completamente o UVC. Já a UVA pode penetrar nas janelas e cobertura de nuvens e pode causar bronzeamento. Existem associações entre UVA e envelhecimento da pele e entre UVB e queima da pele. UVA e UVB podem danificar o DNA nas células da pele. A exposição prolongada a qualquer tipo de luz UV pode levar ao câncer de pele.

De acordo com Paola, é preciso ter atenção ao índice de radiação que é divulgado nas previsões meteorológicas todos os dias nos veículos de comunicação. “Mesmo que o número seja menor que o do verão, ainda assim é importante usar filtro solar todos dias e em todas as épocas do ano. Hoje, é consenso nos congressos mundiais de dermatologia o uso de produtos com ativos antioxidantes pela manhã, principalmente a vitamina C, porque potencializam a proteção da pele pelos efeitos oxidantes da poluição e da radiação solar”, diz a médica.

As queimaduras solares em pessoas de todos os tons de pele causarão: sensação de calor ou ardor; sensibilidade ao toque; dor; irritação; coceira; descamação da pele; possível formação de bolhas.

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Os sintomas de queimadura da pele tendem a piorar em 24 a 36 horas e geralmente desaparecem em 3 a 5 dias - iStock

Os sintomas usualmente começam cerca de quatro horas após a exposição ao sol. Eles tendem a piorar em 24 a 36 horas e geralmente desaparecem em 3 a 5 dias. As queimaduras solares costumam ser mais fáceis de detectar em peles mais claras, pois podem parecer vermelhas e inflamadas. Uma pessoa pode achar mais difícil identificar a vermelhidão ou rosa sutil da queimadura solar em afrodescendentes. À medida que a queimadura solar melhora, a pele pode descascar na área afetada. É importante cuidar dela, embora a queimadura solar em si deva desaparecer sozinha em questão de dias.

Quão essencial é o protetor solar?

Atualmente, existem dois tipos de filtros solares disponíveis: filtros solares físicos e químicos. Os protetores solares físicos, também chamados de protetores solares, geralmente contêm ingredientes como óxido de zinco ou dióxido de titânio. Os químicos contêm substâncias que absorvem raios UVB e UVA.

A Food and Drug Administration dos Estados Unidos (equivalente à Anvisa), está revisando a absorção dos ingredientes ativos de filtros solares químicos no corpo, bem como os efeitos em longo prazo da absorção. Os protetores solares de amplo espectro contêm bloqueadores que absorvem os raios UVA e UVB. Cada protetor solar normalmente exibirá um fator de proteção solar (FPS) em seu recipiente. Um número de FPS mais alto indica melhor proteção.

O protetor solar é crucial porque reduz a quantidade de luz UV que penetra na pele e reduz o risco de desenvolver câncer de pele. A dermatologista lembra que o índice mínimo de filtros solares recomendado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) é FPS 30. “Mas, para algumas peles muito sensíveis ou com manchas, o ideal é abusar de um FPS mais alto, porque há, sim, diferença de proteção entre FPS. E o protetor deve garantir proteção contra UVA, radiação ultravioleta A, um tipo de radiação que atinge a pele mais profundamente, causa o fotoenvelhecimento, aparecimento das rugas e manchas”, afirma.

Também o UVA junto com o UVB favorece o câncer de pele, portanto a fotoproteção é fundamental em qualquer período do ano. O uso diário regular de protetor solar pode reduzir o risco de carcinoma de células escamosas, um tipo de câncer de pele, em aproximadamente 40%. Da mesma forma, pode reduzir o risco de melanoma em 50%. Como a luz UV pode penetrar nas nuvens mesmo durante o tempo nublado, as pessoas devem usar protetor solar mesmo em dias nublados para uma proteção eficaz.

Como se manter protegido

Há muitas maneiras pelas quais uma pessoa pode proteger sua pele, reduzir sua exposição aos raios UV e prevenir queimaduras solares. A Sociedade Americana do Câncer recomenda:

  • evite o ar livre quando a luz UV é mais forte, como entre 10 h e 16 h;
  • vista roupas que cubram a pele adequadamente;
  • use protetor solar;
  • use chapéu com uma aba de pelo menos 5 a 8 centímetros;
  • use óculos escuros que bloqueiem os raios UV;
  • considere usar roupas com fator de proteção ultravioleta para bloquear os raios.

Também é recomendada a escolha de um protetor solar de amplo espectro, que seja resistente à água por 40 a 80 minutos e tenha um FPS 30 ou superior. Uma pessoa também deve aplicar protetor solar suficiente nas áreas expostas, cerca de 30 mL  cobre todo o corpo. Deve-se aplicar protetor solar cerca de 15 a 30 minutos antes de sair, pois esse é o tempo aproximado que a pele leva para absorvê-lo. No entanto, nem todos os protetores solares são à prova d'água ou de suor. Não importa o FPS, o protetor solar deve ser reaplicado a cada duas horas.

Uma pessoa deve aplicar protetor solar em partes do corpo que são facilmente esquecidas: o topo das orelhas, a nuca, a linha parcial do couro cabeludo, a parte superior dos pés e atrás dos joelhos. Além delas, se a pessoa for calva também não deve esquecer do couro cabeludo.

Alterações na pele

A melanina é um pigmento encontrado na pele, cabelos e olhos. Os melanócitos são células que produzem melanina. Quando absorvem os raios UV, os melanócitos aumentam a produção de melanina na tentativa de proteger a pele dos danos. Afrodescendentes têm mais células produtoras. Médicos consideram evidência de lesão no DNA por bronzeamento. Quanto mais danificada a pele estiver, mais o DNA provavelmente se reescreverá incorretamente e potencialmente resultará em uma lesão pré-cancerosa ou se transformará em câncer.

A melanina ajuda a bloquear os raios UV, mas apenas até certo ponto. Embora o risco de queimaduras solares seja menor em uma pessoa com tom de pele mais escuro, ela ainda deve aplicar protetor solar e limitar sua exposição à luz solar para reduzir o risco de desenvolver câncer de pele.

Fatores de risco para queimaduras solares incluem:

  • ter pele clara;
  • ter olhos mais claros, como olhos azuis ou verdes;
  • ter uma cor de cabelo mais clara, como loiro, ruivo ou castanho claro;
  • estar em alta altitude;
  • tomar medicamentos que tornam a pele mais sensível à luz, como erva-de-são-joão;;
  • tomar medicamentos como tetraciclinas, diuréticos tiazídicos, sulfonamidas, fluoroquinolonas;
  • tomar anti-inflamatórios não esteroides;
  • usar retinoides;
  • morar em um local com clima tropical ou subtropical.

Por fim, a dermatologista enfatiza que, independentemente de a pessoa estar fora em um dia nublado ou em casa, há a luz visível. “Por isso, é importante fazer um ritual diário de cuidado e proteção, como realizar a higienização da pele, aplicar um tônico, um antioxidante e fazer a finalização com um fator de proteção solar (produto com ou sem cor). Mas é importante ressaltar que. para quem tem tendência a melasma, ou tem uma pele mais fina, reativa e sensível, o uso da cor é sempre um fator que agrega na defesa e proteção à pele, principalmente, contra a luz visível”, finaliza.

Uma dica: o protetor com cor pode ser substituído no dia a dia por um filtro solar sem cor e, por cima, a maquiagem.

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