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O que as garotas precisam saber sobre o consumo de álcool

Jairo Bouer entrevista a ginecologista Claudia Salomão, especializada em adolescência - Reprodução/YouTube
Jairo Bouer entrevista a ginecologista Claudia Salomão, especializada em adolescência - Reprodução/YouTube

Como o consumo de bebida alcoólica afeta a saúde das garotas? Este é o tema de mais um especial da série Dose de Responsabilidade sobre álcool, gênero e idade. Desta vez, Jairo Bouer entrevista a ginecologista Claudia Barbosa Salomão, presidente dos departamentos de ginecologia infanto-puberal da Sogemig e da Sociedade Mineira de Pediatria.

Muita gente não sabe que o organismo da mulher reage ao álcool de maneira diferente ao do homem, e isso não ocorre só porque elas tendem a pesar menos que eles, como explica a médica:

"A mulher possui um teor de gordura diferente, produz algumas enzimas hepáticas em menor quantidade, então, de maneira geral, o metabolismo do álcool é diferente na mulher".

Assim, ainda que um homem e uma mulher com peso e estatura semelhantes consumam a mesma quantidade de álcool, elas vão ter um impacto maior do que eles. 

No caso das adolescentes, essa vulnerabilidade é ainda maior, já que nesta fase o cérebro ainda não está totalmente formado, e há mais dificuldades, por exemplo, no que se refere ao controle de impulsos ou regulação emocional. 

Jairo e Claudia observam que, antigamente, era mais raro receber garotas com problemas relacionados ao álcool nos hospitais e consultórios. Mas isso mudou bastante, e as pesquisas têm mostrado que as meninas têm bebido de uma forma mais parecida que a dos meninos. Isso ocorreu, segundo a médica, principalmente dos anos de 1990 para cá, conforme as mulheres assumiram mais papéis.

Heranças da pandemia

Claudia observa que as motivações para uso do álcool também podem ser diferentes entre os gêneros. Para os homens pesa muito a influência do social. "Já para a mulher, tem a influência emocional", diz. Nesse período pandêmico, isso ficou muito claro, pois o consumo aumentou de forma importante entre as mulheres sofreram, que enfrentaram a sobrecarga de trabalhar em casa, remotamente, e ainda cuidar das crianças que estavam em casa.

Se no início do confinamento, as pessoas aderiram a receitas caseiras, naturais, e mantiveram um certo controle sobre as emoções, depois de um tempo todo mundo ficou mentalmente esgotado com o prolongamento da pandemia. "E houve uma explosão do consumo de alimentos ultraprocessados, o delivery de comida e também de bebida", comenta, lembrando que muitos adolescentes passaram a beber em casa. 

Assim como os adultos, os adolescentes também tendem a consumir mais álcool para aliviar sintomas de ansiedade e depressão, porque a substância traz um relaxamento imediato. Mas esse é um equívoco, já que o consumo acaba agravando esses transtornos mentais. 

Confira:

Altos e baixos hormonais

As alterações hormonais típicas da vida reprodutiva também interferem na vulnerabilidade ao álcool. No período pré-menstrual, principalmente, muitas garotas se sentem mais ansiosas, por isso, é comum que haja uma dificuldade maior de parar de beber, da mesma forma que muitas tendem a comer mais ou têm o sono desregulado. Segundo a ginecologista, o uso da pílula anticoncepcional pode ser uma alternativa para aquelas que têm queixas importantes nessa fase. 

Mas ela observa que o excesso de álcool pode trazer problemas para as garotas que usam pílula para evitar a gravidez indesejada. Beber demais pode levar a vômitos ou diarreias, que podem atrapalhar a absorção do anticoncepcional. Mas a bebida, e mesmo a ressaca, pode fazer com que elas se esqueçam de tomar a pílula, ou atrasem muito a tomada. "E o esquecimento é a principal causa de ineficácia contraceptiva", alerta Claudia. 

Se a contracepção é deixada de lado por causa do álcool em excesso, também há risco maior de negligenciar o uso da camisinha, o que traz risco de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como HIV, sífilis, gonorreia e clamídia. Por isso é muito importante que, em situações desse tipo, a garota procure o médico o quanto antes para discutir um método de emergência, como a pílula do dia seguinte e, eventualmente, medicamentos e/ou exames preventivos para ISTs. 

Dicas para as garotas

Por último, a médica dá algumas dicas para as garotas que costumam consumir álcool e saem à noite:

- Se for beber, vá e volte de táxi ou Uber.

- Coma antes de ir para a balada.

- Se hidrate durante toda a balada (pois o cérebro é o primeiro órgão a ser afetado pela desidratação).

- Se tomar pílula, escolha um horário que não fique comprometido nos fins de semana, quando é comum sair à noite ou acordar mais tarde.  

- Se tiver relações sexuais sem camisinha, ou se tiver esquecido de tomar a pílula, não tenha vergonha de falar com o médico sobre o assunto. Os profissionais estão preparados para lidar com essas questões. 

Para saber mais sobre álcool, saúde e comportamento, confira o site DrinqIQ.

Assista à entrevista completa: 

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin