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Como falar com amigo pode te proteger de emoções negativas

Marcar um encontro com um amigo evita o impacto negativo de situações comuns de exclusão - iStock
Marcar um encontro com um amigo evita o impacto negativo de situações comuns de exclusão - iStock

Formas muito simples de conexão social – como um papo rápido com um amigo ou até mesmo a expectativa de um encontro – podem reduzir os sentimentos e pensamentos negativos que surgem em situações de exclusão social. É o que mostra um estudo realizado por pesquisadores da Universidade Cornell, nos EUA.

Todos nós estamos expostos a situações diárias em que podemos nos sentir excluídos de alguma forma. Talvez você encontre um conhecido na rua que vai passar por você sem cumprimentar, e, às vezes, é você quem esquece do nome de uma pessoa que se julgava importante na sua vida. O duro é que essas experiências podem gerar pensamentos e emoções negativos nas pessoas, principalmente quando elas já estão vulneráveis.

Como evitar o impacto negativo da exclusão?

O principal autor do estudo, o psicólogo Randy Lee, estuda um campo da psicologia social que se concentra em sensação de pertencimento e exclusão social. Por isso ele e sua equipe decidiram buscar intervenções que pudessem amortecer e ajudar as pessoas a reagir com menos intensidade a essas situações comuns de exclusão.

Os pesquisadores descobriram que conversar com um amigo antes ou depois de ser excluído reduziu o impacto negativo da situação. E até mesmo um lembrete de uma interação futura com um amigo acelerou a recuperação e fez com que os participantes do estudo se sentissem mais seguros.

Jogo de arremesso de bola virtual

Os pesquisadores convidaram 664 pessoas a participar de um jogo de arremesso de bola virtual, no qual poderiam ser incluídos ou deixados de fora, o que os levou a experimentar um humor e uma autoestima mais baixos. Após o jogo, todos tiveram seu humor, sentimentos de pertencimento, senso de controle e conforto social avaliados.

Os testes foram variados: em alguns casos, um amigo da pessoa estava presente, ou variava a natureza do engajamento interpessoal (ter uma conversa cara a cara versus um lembrete de uma interação futura ou simplesmente ter alguém por perto). Também variou o momento da intervenção em relação ao jogo (antes, durante e depois).

Os resultados da pesquisa, publicada no BMC Public Health, mostram que sair da nossa zona de conforto e tomar a iniciativa para manter contato com os amigos é algo importante para nosso bem-estar. Ligar para alguém querido ou marcar um encontro pode até dar algum trabalho, mas os benefícios são impactantes, segundo o estudo.

Pequenas interações já ajudam

"Experimentamos essas vulnerabilidades momentâneas, esses incidentes momentâneos de desconexão onde você pensa: 'Essa pessoa acabou de me ignorar?'", afirmou Lee. "Mas então, muito rapidamente, podemos nos recuperar por meio dessas pequenas interações com um amigo. Também descobrimos que essas pequenas interações com um amigo antes desse momento de desconsideração momentânea podem amortecer as consequências negativas."

Houve evidências menos conclusivas de que uma conversa cara a cara com um colega desconhecido, ou apenas a presença de um colega desconhecido, amortecesse ou promovesse a recuperação do golpe da exclusão social.

Estimular interações é positivo

As descobertas podem ter implicações para organizações, como escolas, faculdades e empresas. Estimular interações frequentes, positivas e estruturadas nesses ambientes pode efetivamente promover a conexão social e reduzir a vulnerabilidade das pessoas a situações em que se sentem excluídas.

O que é mais importante é que isso pode evitar uma espiral descendente de pensamentos negativos e isolamento, com impactos potenciais na solidão e no isolamento.

"O que estamos tentando fazer é apenas amenizar o impacto", disse."Se nossas emoções não forem negativas, pensamos melhor, raciocinamos melhor, podemos ver as coisas de maneira diferente, nossos comportamentos são mais flexíveis e podemos ser mais otimistas."

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin