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Odontologia em Home Care para idosos: legado da pandemia

A legislação se adaptou e autorizou telemonitoramentos, além da prescrição eletrônica a todos os dentistas - iStock
A legislação se adaptou e autorizou telemonitoramentos, além da prescrição eletrônica a todos os dentistas - iStock

Monira Samaan Kallás* Publicado em 15/08/2021, às 12h00

Estamos em agosto de 2021, e a Covid-19 soma a seus chamados grupos vulneráveis, o conceito de “comportamento de risco”. No último semestre assistimos nossa população adulta ocupar leitos de UTIs por achar que não fazia parte dos grupos de risco, entre eles idosos, gestantes e imunossuprimidos, por exemplo.

Em países como nosso Brasil, onde a pandemia ainda não está controlada, o avanço da vacinação associado às medidas de distanciamento social, o uso de máscaras e lavagem das mãos são fundamentais para controlar a disseminação da doença, o que caracteriza comportamento cuidadoso e social.

Confira:

Porém, em março de 2020, nossos idosos fizeram parte da primeira faixa etária da população que protegemos no início da pandemia de Covid-19. Pais, mães, avôs e avós foram “guardados” em casa, protegidos contra um vírus que nos mostrou a fragilidade dos 60+ em seu avanço inicial.

As várias especialidades médicas se adaptaram para atender esses pacientes e com a Odontologia não foi diferente. A legislação brasileira também se adaptou e autorizou telemonitoramentos, além da prescrição eletrônica digital a todos os dentistas, a fim de evitar deslocamentos desnecessários.

Pacientes do Sistema Único de Saúde com dores faciais crônicas, cujos tratamentos são prolongados e exigem consultas de acompanhamento foram assistidos por teleconsultas. E os benefícios desta prática já estavam consagrados em nossa literatura científica. Na Universidade Federal do Rio Grande do Sul um estudo publicado em 2018 mostrou o sucesso de um serviço de telediagnóstico especializado para monitoramento de lesões bucais (1). Além da diminuição de custos com deslocamento, houve aumento de acesso às consultas e a diminuição de encaminhamentos desnecessários para níveis mais elevados de atenção, reduzindo custos e apoiando a atenção primária.

No âmbito do tratamento odontológico propriamente dito, pacientes idosos e acamados puderam se beneficiar da odontologia em home care, prática já existente, porém pouco difundida.

Mas é possível extrair um dente, fazer uma dentadura ou tratar um canal em casa? A resposta é sim!

Existem equipamentos portáteis para a realização de todos esses procedimentos. Os dentistas devem ter atenção reforçada para esterilização e descontaminação de tudo que é usado para o tratamento em home care. Além disso, devem ser oferecidos os mesmos cuidados rotineiros do consultório: coleta de informações como doença principal do paciente, medicamentos em uso, queixa principal bucal, quem será responsável por cuidar da higiene bucal do dia a dia. O plano de tratamento deve ser discutido com o médico e equipe multidisciplinar.

Finalmente, o mesmo peso dado ao tratamento curativo também deve fazer parte dos cuidados odontológicos de um programa de cuidados diário e consultas para monitoramento. Como já dizia o poeta: melhor prevenir do que remediar.

(1) Carrard VC, RoxoGonçalves M, Rodriguez Strey J, Pilz C, Martins M, Martins MD, Schmitz CA, Dal Moro RG, D'Ávila OP, Rados D, Harzheim E, Gonçalves MR. Telediagnosis of oral lesions in primary care: The EstomatoNet Program. Oral Dis. 2018 Sep;24(6):1012-1019. doi: 10.1111/odi.12851. Epub 2018 Jun 7. PMID: 29505701.

*Sobre a autora: Monira Samaan Kallás

Dentista no Consultório, em Home Care e hospitalar. Doutora em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio- Libanês. Especialista e mestre em Odontologia e Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia da USP. Habilitada em odontologia hospitalar pelo Conselho Federal de Odontologia.