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Dentista e artista: os cuidados com a saúde bucal de idosos

Em idosos com declínio cognitivo há necessidade de mais cuidado e atenção ao longo do tratamento - iStock
Em idosos com declínio cognitivo há necessidade de mais cuidado e atenção ao longo do tratamento - iStock

Monira Samaan Kallás Publicado em 29/07/2021, às 11h21

Quando adultos e independentes para realizar as atividades de vida diária, somos responsáveis pelas escolhas que fazemos em nossos tratamentos odontológicos. Decisões como: tipo de material para restaurar cáries, extrair dentes, usar próteses ou colocar implantes são parte de um planejamento previamente discutido com o dentista e decidido por nós. Simples assim. 

Entretanto, se formos idosos com declínio cognitivo podemos perder a capacidade de decisão e a independência. E, assim, merecemos todo respeito da equipe que cuidará de nossa saúde bucal: responsáveis legais, dentistas e cuidadores do dia a dia são os personagens da vida real que participarão de decisões complexas no que se refere à saúde bucal.

Sr. Carlos tem prognóstico de vida de seis meses, quer trocar sua dentadura e a família não quer, pois alega que ele vai viver pouco e que não se alimenta via oral. Sra. Catarina quer colocar enxertos ósseos e implantes de última geração, mas tem diabetes descompensada e faz uso de alendronatos. Sra. Márcia tem Alzheimer avançado, usa sonda para se alimentar e agride a cuidadora toda vez que há necessidade de cuidados de higiene bucal – deixamos os dentes sem escovar e a deixamos ter dores fortes na boca e perder os dentes por infecções bucais?"

Um artigo publicado em 2015 parte da premissa da complexidade e heterogeneidade da saúde bucal do idoso: relação bidirecional entre condições sistêmicas e bucais, condições socioeconômicas, efeitos bucais de medicamentos de uso contínuo e grau de cognição e autonomia do paciente.

Cuidado e atenção

O norte para um plano de tratamento racional envolve respondermos questões como: os desejos e expectativas do paciente, o tipo e severidade do problema, a necessidade de tratamento dentário, o impacto na qualidade de vida, a probabilidade de desfechos favoráveis, a capacidade de manter higiene bucal, as alternativas razoáveis de tratamento e a capacidade de tolerá-lo. 

Confira:

Com base nestas premissas, há níveis de cuidados que vão desde um tratamento complexo, com reabilitação oral, passando por cuidados intermediários, como alternativas aos tratamentos convencionais, até cuidados paliativos, focados em controle de sintomas, como dor e infecções.

Somado a isso, o plano de tratamento não envolve somente o dentista: envolve toda a equipe multi que cuida do paciente, como médicos, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Esses profissionais são fundamentais para discutir a necessidade versus a oportunidade dos procedimentos odontológicos.

E há um personagem crucial para o sucesso do tratamento: o cuidador do paciente, a pessoa que ficará responsável pela sua higiene bucal no dia a dia."

É uma tarefa árdua e, muitas vezes, a mais desvalorizada de todas. Nesse caso, o dentista tem papel fundamental de incluir em seu plano curativo um planejamento preventivo e, junto com todos, determinar como, onde, quando e quem vai cuidar da higiene bucal do paciente.

O cuidado com a saúde bucal do idoso exige ciência e arte juntas. Ciência para saber que a boca do paciente não está isolada de suas condições gerais e arte para fazer dentes bonitos. Além disso, é importante integrar todos que estão em volta do paciente para a manutenção do dia a dia, da forma mais racional possível. 

* Monira Samaan Kallás - Dentista no Consultório, em Home Care e hospitalar. Doutora em Ciências da Saúde pelo Instituto de Ensino e Pesquisa do hospital Sírio Libanês. Especialista e mestre em Odontologia e Saúde Coletiva pela Faculdade de Odontologia da USP. Habilitada em odontologia hospitalar pelo Conselho Federal de Odontologia. [email protected]