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Ela não confia em mim porque tenho depressão; e agora?

A psicofobia é o preconceito contra pessoas com problemas relacionados à saúde mental - iStock
A psicofobia é o preconceito contra pessoas com problemas relacionados à saúde mental - iStock

Redação Publicado em 20/07/2022, às 09h00

“Doutor, minha ex-nora fez a cabecinha do meu neto e ele está com medo de vir aqui na minha casa. A gente era muito ligado. Ela me mandou uma mensagem, diz que eu sou dependente de remédios para a depressão e que ela não confia em deixar o meu neto comigo. Fiquei arrasada, o que eu faço?”

Em situações como essa, é importante procurar a outra pessoa para explicar o quanto esta atitude pode ser prejudicial. Ter depressão ou tomar remédios para tratar a condição não torna ninguém incapaz. Existem milhares de pessoas que fazem tratamento e continuam com suas vidas normalmente. 

Assim, não há nenhuma contraindicação para cuidar de uma criança, somente se o quadro depressivo for muito grave e a pessoa não se sentir capaz disso. Se o diálogo não está funcionando, uma opção é pedir ajuda para alguém próximo e explicar a situação. 

Diga não à psicofobia 

Ainda hoje há preconceito com quem tem depressão, transtorno de ansiedade ou outras questões de saúde mental. Inclusive, existe um nome para esse comportamento: psicofobia.

O termo é utilizado para qualificar o preconceito contra pessoas portadoras de algum tipo de transtorno ou doença mental. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), aproximadamente 720 milhões de pessoas sofrem com doenças mentais no mundo, o que equivale a, aproximadamente, 10% de toda a população mundial. 

Confira:

A principal causa desse tipo de preconceito é o estereótipo criado sobre pessoas que têm algum transtorno mental. Existe uma carga de estigmas que circula no imaginário social e que não corresponde à realidade. 

Muitas vezes, a psicofobia passa despercebida, mas é uma prática presente e frequente, seja por meio de comentários ou de atos segregadores. Além do julgamento, muitas frases psicofóbicas são ouvidas cotidianamente, como: 

  • “Quem vai ao psiquiatra é doido”;
  • “Depressão não é doença, é frescura”;
  • “Ansiedade é falta de oração”;
  • “Você não precisa de remédio, precisa de Deus” 
  • “Acorda pra vida, parece um retardado”. 

Desprezar a condição mental de alguém nada mais é do que praticar o preconceito e reforçar o estigma em torno dos transtornos mentais. A psicofobia também ocorre por ações discriminatórias quando, por exemplo, se limita o acesso de pessoas sob essas condições a certos espaços, quando se dificultam oportunidades ou quando são excluídas socialmente. 

Impactos da psicofobia

O medo do julgamento e da exclusão social pode fazer com que pessoas com comprometimento psiquiátrico evitem procurar apoio médico ou psicológico, agravando o quadro clínico. Muitas vezes, sinais de depressão ou de ansiedade são vistos como fraqueza. 

A psicofobia atrapalha a busca e a adesão ao tratamento adequado, bem como aumenta a probabilidade de as pessoas optarem por automedicação, consumo de álcool ou outras drogas na tentativa de amenizar o sofrimento. Em qualquer uma dessas situações, há grandes chances de o problema ser agravado e da piora da qualidade de vida.

Vale lembrar que ninguém está livre de enfrentar algum transtorno ou doença mental. Todos os dias, milhares de pessoas recebem diagnósticos de depressão, de transtornos de humor, de déficit de atenção e de transtornos de personalidade e ansiedade, por exemplo.