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Usar álcool ou maconha para dormir é armadilha, alertam pesquisadores

Um em cada cinco adultos jovens usa maconha ou álcool para dormir, segundo estudo - iStock
Um em cada cinco adultos jovens usa maconha ou álcool para dormir, segundo estudo - iStock

Redação Publicado em 23/10/2025, às 10h00

Um estudo publicado este mês nos EUA mostra que um em cada cinco adultos jovens admite ter usado maconha, álcool ou ambos para conseguir dormir no último ano.

O trabalho foi liderado por uma equipe da Universidade de Michigan e publicado no periódico Jama Pediatrics. Ao todo, a análise envolveu 1.473 jovens adultos de 19 a 30 anos de idade.

Álcool e maconha para dormir

Veja as principais conclusões do estudo:

  • 22,4% dos participantes disseram ter usado maconha e/ou álcool para facilitar o sono no último ano;
  • 18,3% relataram uso de maconha para dormir;
  • 7,2% usaram álcool pelo mesmo motivo;
  • Entre os que haviam usado maconha no último ano, 41,4% disseram que o fizeram para ajudar no sono;
  • Entre os usuários de álcool, apenas 8,6% relataram o mesmo.

Ou seja, a maconha superou o álcool como “ajuda para dormir” entre jovens adultos (lembrando que a maconha é legalizada em vários estados norte-americanos).

Também existem diferenças marcantes em relação a certos grupos:

  • Mulheres foram quase duas vezes mais propensas que homens a usar maconha para dormir;
  • Pessoas que se identificam como não binárias ou de gênero diverso foram quatro vezes mais propensas que homens a recorrer à maconha;
  • Já no caso do álcool, jovens negros foram cerca de três vezes mais propensos do que jovens brancos a relatar o uso para adormecer.

Esses padrões sugerem que fatores culturais, psicológicos e ambientais podem ter um papel importante na questão do sono.

Por que isso pode ser uma armadilha?

Embora os resultados não cheguem a surpreender (você deve conhecer alguém que diz tomar uma taça de vinho ou latinha de cerveja para relaxar antes de dormir), eles chamam atenção para um problema grave.

Em primeiro lugar, embora essas substâncias possam ajudar algumas pessoas a pegar no sono mais rápido, elas prejudicam a manutenção e a qualidade do sono e, a longo prazo, isso pode ter consequências para a saúde física e mental.

Como ressaltam os pesquisadores de Michigan, acreditar que álcool e maconha sejam úteis para “desligar a mente” depois de um dia difícil é uma ilusão, já que isso só funciona a curtíssimo prazo.

Com o tempo, o uso dessas substâncias pode gerar o oposto do esperado, acentuando sintomas como cansaço, ansiedade, insônia e dificuldade de concentração. Sem falar no risco de dependência.

Leia também: Tem insônia? Dormir menos é estratégia de Harvard

Por que muitos jovens fazem isso?

Segundo o estudo, um dos motivos é a falta de acesso a tratamentos adequados para insônia e distúrbios do sono.

A terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I), considerada o tratamento não medicamentoso mais eficaz, ainda não está amplamente disponível ou coberta por planos de saúde.

Isso faz com que muitos jovens busquem se automedicar com substâncias, tentando lidar sozinhos com estresse, ansiedade e má higiene do sono.

Mas o estudo reforça um ponto importante: usar substâncias não resolve o problema do sono — apenas o disfarça. Sem tratar as causas reais (como estresse, ansiedade, depressão, rotina irregular ou uso excessivo de telas), a pessoa pode entrar em um ciclo de dependência difícil de romper.

Passos para dormir melhor

Especialistas recomendam começar com mudanças de comportamento e estilo de vida. Veja algumas estratégias práticas e comprovadas:

  • Mantenha horários regulares: ir para a cama e acordar sempre nos mesmos horários ajuda a regular o relógio biológico.
  • Evite telas antes de dormir: a luz azul dos celulares e computadores reduz a produção de melatonina.
  • Crie um ritual de relaxamento noturno: ler, meditar, ouvir músicas calmas ou alongar o corpo prepara o cérebro para o descanso.
  • Evite cafeína e refeições pesadas à noite: ambos dificultam o início do sono.
  • Experimente programas ou aplicativos de TCC-I: versões digitais da terapia têm bons resultados.
  • Cuide da saúde mental: ansiedade e depressão estão entre as maiores causas de insônia; terapia e apoio psicológico ajudam a recuperar o sono natural.

Se mesmo assim os problemas persistirem, procure um profissional de saúde. Distúrbios como apneia do sono, síndrome das pernas inquietas ou alterações no ciclo circadiano podem exigir tratamento específico.

Fontes: Jama Pediatrics e EduTalkToday