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Toque genital e o cérebro feminino: mapeamento preciso traz novidades

Pesquisa ajuda a compreender mecanismos neurais que fundamentam condições como disfunção sexual - iStock
Pesquisa ajuda a compreender mecanismos neurais que fundamentam condições como disfunção sexual - iStock

Redação Publicado em 27/12/2021, às 13h00

Em um novo estudo, o mapeamento preciso do cérebro feminino encontrou o local exato responsável por receber e processar o toque genital. O estudo, que aparece na revista JNeurosci “inequivocamente localiza o campo da representação genital feminina no córtex somatossensorial”, observa a autora principal, Profª Christine Heim, do Instituto de Psicologia Médica de Berlim.

A localização tem sido um assunto polêmico devido aos métodos imprecisos que os pesquisadores utilizavam anteriormente. Até agora, os estudos analisaram apenas a estimulação focal em homens.

O estudo

Financiado pelo NeuroCure Cluster of Excellence, em Berlim, o estudo foi um esforço conjunto entre pesquisadores de biologia, psicologia clínica, psicologia cognitiva, neuroimagem e neurociência. O objetivo era entender o impacto da estimulação genital no cérebro feminino e sua capacidade de mudar.

Os pesquisadores estudaram 20 mulheres saudáveis com idades entre 18 e 45 anos, sem distúrbios psiquiátricos, neurológicos ou sexuais ou doenças físicas. Cada participante preencheu um questionário e realizou imagem de ressonância magnética funcional (fMRI) durante dois tipos diferentes de estimulação sensorial, uma precisa e outra localizada. A ressonância magnética estrutural avaliou a espessura da área mapeada no cérebro.

Os pesquisadores também avaliaram o prazer e a excitação sexual durante a estimulação do clitóris usando uma escala visual analógica de sete pontos.

Localização e tamanho da área

A análise da imagem de ressonância magnética funcional permitiu a identificação da região do cérebro ativada para cada participante e o cálculo de padrões individuais de resposta a cada método de estimulação. A localização precisa da representação variava de pessoa para pessoa, mas todas mostravam ativação do giro pós-central, uma proeminente estrutura do lobo parietal do cérebro humano. Esta é uma das quatro principais áreas do cérebro e contém o córtex somatossensorial - sistema complexo de neurônios sensoriais e vias neurais que responde a mudanças na superfície ou dentro do corpo.

Os pesquisadores descobriram que a espessura da área mudou com a frequência das relações sexuais, sugerindo sua capacidade de mudar estruturalmente para refletir seu uso.

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O estudo ajuda a identificar e desenvolver intervenções que podem reverter  consequências neurais de abusos, por exemplo - iStock

Implicações clínicas

O estudo fornece dados valiosos sobre o processamento da estimulação genital no cérebro feminino. Christine Heim explica que o estudo é de grande importância, pois abre uma área de pesquisa nova e anteriormente negligenciada em relação ao processamento de estímulos sensoriais genitais no nível do cérebro em mulheres saudáveis e em mulheres com condições clínicas, como disfunção sexual, ou após exposições aversivas (que provocam repulsa).

Para ela, esta pesquisa será importante e crítica para compreender os mecanismos neurais que fundamentam as condições clínicas, como disfunção sexual ou as consequências neurais do abuso sexual. O estudo também oferece uma nova abordagem metodológica para o desenho de estudos clínicos para melhor compreender o impacto dos distúrbios sexuais no cérebro e as consequências neurais do abuso sexual.

O futuro das intervenções sexuais

A professora conta que estudos como este ajudarão a entender a base neural das condições clínicas e os resultados clínicos irão beneficiar as mulheres afetadas. Os cientistas esperam que, com essas pesquisas, possam identificar os mecanismos cerebrais que contribuem para a disfunção sexual ou consequências do abuso sexual, que são necessários para identificar e desenvolver intervenções que podem reverter ou prevenir esses mecanismos cerebrais.

Houve limitações no estudo de pequena escala. A maioria das participantes envolvidas era descendente de europeus, tinha ensino superior, era heterossexual, destra e vivia em parceria monogâmica. É necessária uma coorte de estudo mais ampla para poder generalizar os resultados para populações maiores.

A mensagem do estudo é que as ferramentas e métodos fornecidos por esta pesquisa podem levar à descoberta de “marcadores baseados no mecanismo do cérebro”, que podem resultar em intervenções para tratar condições clínicas e os efeitos do abuso sexual.

Fonte: Medical News Today

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