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Ratos preferem ajudar seus iguais; humanos podem agir de modo parecido

Um rato só ajudava o outro preso se ele fosse da mesma raça ou membro do mesmo grupo interno - iStock
Um rato só ajudava o outro preso se ele fosse da mesma raça ou membro do mesmo grupo interno - iStock

Redação Publicado em 19/07/2021, às 19h30

Um estudo feito dez anos atrás por cientistas mostrou ratos de laboratório resgatando um companheiro em perigo, mas não um que eles consideraram um estranho. Agora, uma nova pesquisa da Universidade da Califórnia, Berkeley (EUA), identificou as regiões do cérebro que levam os ratos a priorizar seus mais próximos e queridos em situação de crise. O resultado sugere que os humanos também podem compartilhar o mesmo viés neural.

As descobertas, publicadas recentemente na revista eLife, sugerem que o altruísmo, seja em roedores ou em humanos, é motivado por laços sociais e familiaridade em vez de simpatia ou culpa.

Os pesquisadores descobriram que a identidade de grupo do rato angustiado influencia dramaticamente a resposta neural e a decisão de ajudar, revelando o mecanismo biológico de viés dentro do grupo.

Com o nacionalismo e os conflitos entre grupos religiosos e étnicos aumentando globalmente, os resultados sugerem que a integração social, ao invés da segregação, pode aumentar a cooperação entre os humanos. Segundo os autores do estudo, criar uma associação de grupo comum pode ser um impulsionador mais poderoso para induzir a motivação pró-social do que aumentar a empatia.

Empatia

A pesquisa teve início em 2014, com a equipe buscando identificar as redes cerebrais ativadas em ratos em resposta à empatia, e se elas eram espelhadas em humanos. Para eles, os resultados sugerem que sim. "A descoberta de uma rede neural semelhante envolvida na ajuda empática em ratos, como em humanos, fornece novas evidências de que cuidar de outras pessoas é baseado em um mecanismo neurobiológico compartilhado entre os mamíferos", afirmaram os pesquisadores.

Usando ferramentas de diagnóstico, os pesquisadores descobriram que todos os ratos experimentaram empatia em resposta aos sinais de angústia de outro rato. Porém, para agir de acordo com essa empatia, o circuito de recompensa neural do rato ajudante precisava ser acionado, e isso só ocorria se o rato preso fosse do mesmo tipo que ele, ou membro do mesmo grupo interno.

Para surpresa dos cientistas, eles descobriram que a rede associada à empatia é ativada quando você vê um colega angustiado, estivesse ele no grupo interno ou não. Porém, em contraste, a rede associada à sinalização de recompensa era ativada apenas para membros do grupo, e correlacionada com o comportamento de ajuda.

Segundo os pesquisadores, a empatia dos ratos se correlacionou especificamente com as regiões sensoriais e orbitofrontais do cérebro, bem como com a ínsula anterior (pequena região do córtex cerebral localizada no interior do sulco lateral). Enquanto isso, a decisão dos roedores de ajudar estava ligada à atividade no núcleo accumbens, um centro de recompensa, que gera prazer, impulsividade e comportamento maternal, com neurotransmissores que incluem dopamina (um mensageiro químico importante para o cérebro) e serotonina (que proporciona bem-estar).

Pertencimento

O estudo contou com mais de 60 pares de ratos que foram monitorados por duas semanas. Alguns pares eram da mesma linhagem ou raça e outros não. Em cada tentativa, um rato ficava preso dentro de um cilindro transparente enquanto o outro vagava livremente ao redor, em um cercado maior. Enquanto os soltos sinalizavam forte empatia pela situação dos presos, eles só tentaram libertar aqueles que faziam parte do seu grupo, demonstrando isso ao encostar ou bater a cabeça contra a porta.

Ao revisar os resultados de várias medidas para entender as raízes neurais desse viés, a equipe de pesquisa descobriu que, embora todos os roedores nos testes sentissem a angústia ao ver um parceiro preso, o circuito de recompensa do cérebro só foi ativado quando eles vieram resgatar um membro do mesmo grupo. O interessante é que humanos e outros mamíferos compartilham virtualmente as mesmas regiões de empatia e recompensa do cérebro. Para os cientistas, isso implica que podemos ter tendências semelhantes em relação ao nosso grupo quando se trata de ajudar os outros.

As descobertas, em geral, sugerem que a empatia, por si só, não prenuncia um comportamento de ajuda. Para os pesquisadores, se alguém quiser motivar pessoas a ajudar outras que estejam em sofrimento, pode ser necessário aumentar o sentimento de pertencimento e associação ao grupo, trabalhando em prol de uma identidade comum.

"De forma encorajadora, descobrimos que esse mecanismo é muito flexível e determinado principalmente pela experiência social. Agora, tentaremos entender como a motivação pró-social muda quando os ratos se tornam amigos e como isso se reflete na atividade cerebral”, afirmaram os pesquisadores.

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