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Produção independente possibilita que homens solteiros tenham filho

De poucos anos para cá, a produção independente masculina passou a ser mais frequente - iStock
De poucos anos para cá, a produção independente masculina passou a ser mais frequente - iStock

Redação Publicado em 25/08/2022, às 10h00

Já não é de agora que os modelos de família tradicional têm sido bastante modificados pelas novas condições que as mudanças na sociedade e na ciência conseguem trazer. São grandes mudanças em relação aos modelos que tínhamos poucas décadas atrás.

A produção independente já é muitas vezes conhecida quando feita por mulheres, quando elas usam um banco de sêmen para fazer tratamentos de reprodução assistida. Até mesmo existem algumas situações mais perigosas e arriscadas, em que elas acabam encomendando o material genético masculino (os espermatozoides) em redes sociais, sem saber se o doador tem alguma infecção sexualmente transmissível ou algum problema genético. Essas são as chamadas “inseminações caseiras”.

Porém, de poucos anos para cá, passou a ser mais frequente a chamada produção independente masculina.

Nestes casos, homens solteiros e que não possuem relacionamento estável, optam por ter filhos de maneira independente.

Mas, como funciona nesses casos, já que obrigatoriamente um homem não consegue engravidar? É muito simples: estes homens usam um tratamento chamado de barriga solidária ou cessão temporária de útero, como é conhecido tecnicamente.

A pessoa que vai ser a barriga solidária precisa ser parente de até quarto grau do homem que está fazendo a produção independente. Mas mesmo em casos em que este homem não tenha nenhuma mulher parente que possa ajudá-lo com o tratamento, é possível que outras mulheres sem grau de parentesco também possam ser a sua barriga solidária. Então, quando não há grau de parentesco, é necessária uma autorização do Conselho Regional de Medicina, que deve ser solicitada pelo médico que está fazendo tratamento.

Também para que a produção independente masculina deste homem aconteça, ele vai precisar de óvulos de uma doadora anônima. Vale ressaltar que os óvulos têm que ser de uma pessoa anônima, mas o útero deve ser de alguém conhecida.

E finalmente o cenário está completo: temos o sêmen deste homem que quer fazer produção independente, os óvulos de uma doadora anônima e o útero de uma pessoa que vai ser a barriga solidária. Com esses três elementos em conjunto, conseguimos fazer a fertilização in vitro do sêmen com os óvulos doados e, posteriormente, é feita transferência dos embriões para o útero da barriga solidária.

É um tratamento bastante particular, em que muitas questões éticas, legais e psicológicas estão envolvidas e que, portanto, tem uma especificidade que deve ser acompanhada com todo cuidado e atenção pela clínica responsável pelo tratamento.

O médico assistente deve estar treinado e habituado a lidar com esse cenário e dessa forma permitir que novas famílias possam ser construídas, com todo afeto e amor que se espera desse laço tão importante.

* Fernando Prado é médico ginecologista, obstetra e especialista em Reprodução Humana. É diretor clínico da Neo Vita e coordenador médico da Embriológica. Doutor pela Universidade Federal de São Paulo e pelo Imperial College London, de Londres - Reino Unido. Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo, Membro da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM) e da Sociedade Europeia de Reprodução Humana (ESHRE). Instagram: @neovita.br