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Não parece, mas a solidão pesa para os mais jovens

Imagem Não parece, mas a solidão pesa para os mais jovens

Jairo Bouer Publicado em 28/07/2020, às 12h27

Quando a pandemia começou, as preocupações de todo mundo se voltaram para os mais idosos, que, sem familiaridade com a tecnologia, correriam o risco de ficar ainda mais isolados que o resto da população. Crianças e adolescentes comemoraram suas “férias forçadas” e até ganharam mais liberdade dos pais para ficar na internet. Mas o que temos percebido, cada vez mais, é que os jovens têm sofrido mais do que muita gente imagina com o isolamento.

Um grande estudo britânico publicado na mais recente edição do periódico The Lancet Psychiatry confirma essa tendência. Um quarto dos 17.452 entrevistados apresentaram algum tipo de abalo na saúde mental entre março e abril deste ano, sendo que antes da pandemia essa proporção era de um quinto. Apesar dos maiores riscos que o novo coronavírus apresenta para os mais idosos, os índices de estresse psicológico foram mais altos para jovens de 16 a 24 anos do que para a população com 70 anos ou mais.

Em geral, as pessoas acham que crianças e adolescentes têm amigos, paqueras e distrações suficientes, por isso não têm do que reclamar. Mas a realidade não é bem assim. Outra grande pesquisa, que teve início bem antes da pandemia, revela que indivíduos de 16 a 24 anos de idade são os que mais sofrem de solidão. O sentimento é referido por 40% deles! E mais: entre crianças de 10 a 12 anos, a proporção chega a 14%. Na faixa dos 75 anos ou mais, 27% se sentem solitários. O experimento envolveu 55 mil pessoas de diferentes países, culturas e gêneros. Um dos fatores atribuídos a essa epidemia de solidão entre os mais novos é o uso excessivo da tecnologia e a substituição das interações face a face por mensagens de texto, numa fase em que o jovem ainda não tem recursos internos suficientes para enfrentar as novas responsabilidades.

Para aqueles que não se identificam como heterossexuais, a influência das mídias sociais parece ser ainda mais danosa, por causa do preconceito e do cyberbullying. Para se ter uma ideia, uma equipe da Universidade de Washington acompanhou 214 jovens LGBTQ num acampamento de férias sem acesso a eletrônicos e verificou que os sintomas depressivos dos participantes diminuíram pela metade durante o “detox digital”. Mas como se afastar das telas num momento como o atual?

Aguentar um mês de isolamento e incertezas é difícil, mas agora já são mais de quatro e ainda não é possível prever quando tudo isso vai acabar. Se no início a gente estava em alerta, pronto para se proteger ou ajudar, agora a sensação generalizada é de cansaço e falta de motivação. Mas tente não deixar de fazer um esforço para se conectar de verdade com outras pessoas, da maneira que for possível. Os encontros por videoconferência podem ter perdido o encanto inicial, mas eles ainda são necessários. Ainda mais para quem cresceu cercado de telas.

*Texto extraído da Coluna do Dr. Jairo Bouer no UOL