Redação Publicado em 16/10/2025, às 10h00
Pré-adolescentes que usam redes sociais em maior quantidade têm pior desempenho em testes de leitura, vocabulário e memória na adolescência inicial, em comparação com aqueles que não usam ou usam pouco as redes sociais. É o que aponta um estudo publicado esta semana no periódico JAMA.
Embora a maioria das pesquisas recentes tenha se concentrado no impacto das redes sociais na saúde mental das crianças, o trabalho teve como objetivo avaliar a influência do uso na aprendizagem. De acordo com o autor do estudo e pediatra Jason Nagata, da Universidade da Califórnia, nos EUA, entender isso é fundamental, ainda mais agora que muitas escolas têm proibido o uso de celulares.
Nagata e seus colegas usaram dados de um dos maiores estudos em andamento sobre adolescentes, chamado Adolescent Brain Cognitive Development (ABCD) Study. A amostra do estudo contou com mais de 6.000 crianças, com idades entre 9 e 10 anos, acompanhadas até o início da adolescência.
As crianças foram divididas em três grupos com base em seus padrões de uso de redes sociais ao longo do tempo:
Todos os grupos fizeram uma série de testes para medir seu desempenho cognitivo no início do estudo e no início da adolescência.
“O que me chamou atenção – e talvez tenha sido surpreendente – foi que até mesmo os usuários com baixo aumento de uso, ou seja, aqueles que usavam cerca de uma hora por dia aos 13 anos, apresentaram, em média, de 1 a 2 pontos a menos nas tarefas de leitura e memória em comparação com os que não usavam redes sociais”, diz Nagata.
Já o grupo com maior aumento de uso teve desempenho de 4 a 5 pontos inferior em comparação com os que não usavam.
Em outras palavras, os que tinham o uso mais elevado de redes sociais apresentaram os piores resultados, mas até mesmo os usuários com uso leve tiveram pequenas quedas em suas pontuações cognitivas.
Embora uma diferença de poucos pontos em testes possa parecer insignificante, é importante entender que as crianças estão em constante desenvolvimento. Assim, essa diferença pequena pode se traduzir numa trajetória muito diferente no futuro.
Pesquisas mais recentes também mostram que o uso de redes sociais aumenta conforme a adolescência avança, o que pode levar a lacunas ainda maiores no aprendizado nos anos seguintes.
Em estudos anteriores, a equipe de Nagata usou os mesmos dados do ABCD Study e encontrou outras tendências preocupantes entre os usuários de redes sociais com menos de 13 anos.
Eles descobriram que a maioria das crianças — quase dois terços — começa a usar redes sociais antes dos 13 anos. Eles também observaram altos níveis de sintomas semelhantes ao vício em smartphones entre crianças de 10 a 14 anos.
A Dinamarca anunciou na semana passada que pretende proibir o uso de redes sociais para menores de 15 anos. A Austrália, por sua vez, vai exigir que as empresas de redes sociais tomem medidas para impedir que jovens com menos de 16 anos criem ou mantenham contas. Estudos desse tipo devem incentivar muitos outros países a tomarem providências semelhantes.