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Jogar pode ajudar no combate à demência, diz pesquisa

Com a função cerebral comprometida, idosos perdem a capacidade de planejar e lembrar das coisas - iStock
Com a função cerebral comprometida, idosos perdem a capacidade de planejar e lembrar das coisas - iStock

Redação Publicado em 09/04/2021, às 14h10

Pela primeira vez, um estudo do Instituto Federal de Tecnologia de Zurique (ETH Zurich - Suíça) mostrou que o treinamento motor cognitivo melhora as habilidades cognitivas e físicas de pacientes com demência significativamente prejudicada. Um jogo conhecido como “Exergame” foi utilizado no estudo. 

Um diagnóstico de demência muda não só a vida da pessoa, como também afeta todos os indivíduos que fazem parte do seu convívio — familiares e amigos — à medida que a função cerebral diminui gradualmente. Ou seja, começam a perder a capacidade de planejar, lembrar das coisas e se comportar de forma adequada. 

Além disso, as habilidades motoras também são prejudicadas e, dependendo do nível da demência, muitos pacientes são incapazes de lidar sozinhos com a vida cotidiana e precisam ser amparados o tempo todo.

Melhora cognitiva não é novidade

Em 2015, uma equipe de pesquisadores revelou que pessoas mais velhas que treinavam o corpo e a mente simultaneamente demonstraram melhor desempenho cognitivo e, consequentemente, também poderiam prevenir o aparecimento de um quadro de demência. Entretanto, esse estudo foi realizado apenas em indivíduos saudáveis. 

Segundo os pesquisadores, não é novidade que o treinamento físico e cognitivo tem um efeito positivo sobre a demência. No entanto, a tarefa mais difícil é motivar pacientes nessa situação a realizar algum tipo de atividade física por longos períodos. 

E se combinar exercício e diversão?

Nesse contexto, um grupo de pesquisadores dedicou-se a desenvolver um programa de treinamento personalizado que melhorasse a vida das pessoas mais velhas. Isto é, oferecesse exercícios divertidos para incentivar aqueles que já apresentam algum prejuízo físico e cognitivo a praticar uma atividade. 

A partir daí nasceu a plataforma “Senso”, composta por uma tela com o software do jogo e um painel de piso com quatro campos, que medem passos, deslocamento de peso e equilíbrio. Os usuários tentam completar uma sequência de movimentos com os pés conforme indicado na tela, permitindo que eles treinem o movimento físico e a função cognitiva simultaneamente. O fato de o jogo também ser divertido torna mais fácil motivar os indivíduos a praticarem regularmente.

Oito semanas de treinamento 

Para a pesquisa, a equipe recrutou 45 participantes, todos residentes de casas de repouso na Bélgica, com idade média de 85 anos e apresentando sintomas graves de demência

Os autores explicaram que os idosos foram divididos em dois grupos de maneira aleatória. O primeiro treinou por 15 minutos na plataforma Senso, três vezes por semana, durante dois meses. Enquanto isso, a segunda turma ouviu e assistiu vídeos musicais à sua escolha. 

Após as oito semanas de treinamento, os pesquisadores compararam a capacidade física, cognitiva e mental de todos os participantes com a análise feita no início do estudo. 

Jogo como um aliado 

De acordo com os achados, o treinamento de fato aprimorou as habilidades cognitivas dos pacientes, incluindo atenção, concentração, memória e orientação. De acordo com os pesquisadores, os dados dão esperança de que, através de um jogo direcionado, seja possível não apenas atrasar, mas também enfraquecer os sintomas da demência. 

Algo que chamou atenção da equipe foi que, após oito semanas (dois meses), o grupo-controle se deteriorou ainda mais, enquanto melhorias significativas foram observadas no grupo de treinamento. 

Além do impacto positivo na capacidade cognitiva, as descobertas registraram ainda que houve também efeitos benéficos sobre as habilidades físicas, como o tempo de reação. Para os pesquisadores, esse dado é encorajador visto que a velocidade com que as pessoas mais velhas respondem aos impulsos é fundamental para determinar se podem evitar uma queda ou não.