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Inveja: estudos mostram aspectos que desconhecemos ou escondemos

A sensação de inveja relatada era mais leve quando o cenário hipotético envolvia o passado - iStock
A sensação de inveja relatada era mais leve quando o cenário hipotético envolvia o passado - iStock

Redação Publicado em 21/06/2021, às 17h00

Ninguém gosta de admitir, mas todo mundo já sentiu ao menos uma pontinha de inveja de alguém. Pode parecer tolice estudar esse sentimento, mas, com cada vez mais gente grudada nas redes sociais, comparar-se com os outros o tempo todo tornou-se inevitável. E o quanto esse fenômeno impacta na saúde mental das pessoas é algo que os pesquisadores querem entender.

Veja, abaixo, algumas descobertas recentes sobre a inveja que podem te ajudar a ganhar mais consciência sobre esse sentimento e, assim, tentar evitar suas possíveis consequências negativas.

1. Inveja dói

Um estudo publicado na revista Science, há algum tempo, revela o que muita gente já experimentou por conta própria: sentir inveja é muito incômodo. É que o sentimento ativa a uma área do cérebro que também está envolvida no processamento da dor física. Os cientistas chegaram à conclusão ao estimular a sensação e, ao mesmo tempo, examinar o cérebro dos participantes com ressonância magnética funcionar. 

2. O futuro incomoda mais que o passado

O que você acha que causa mais inveja nos outros? Algum colega falar que está de malas prontas para uma praia paradisíaca? Ou o relato da viagem ao voltar de férias? Apostou na primeira? Pois é, acertou. Uma pesquisa descobriu que as pessoas tendem a se sentir mais incomodadas com a felicidade alheia quando algo de bom ainda vai acontecer para elas. Depois que passou, não dão mais importância. 

O estudo, publicado na revista Psychological Science, foi conduzido por cientistas da Universidade de Chicago. Eles já sabiam que emoções sobre o futuro tendem a ser mais intensas, pois o tema já havia sido abordado, como a preocupação sobre uma prova que vai ocorrer ou a expectativa em relação a uma grande festa. Lembra-se da expressão “o melhor da festa é esperar por ela”?

Para confirmar se o mesmo ocorre com a inveja, eles fizeram um experimento com 620 pessoas, que foram convidadas a imaginar que um amigo havia conseguido algo que elas almejavam muito, como uma viagem dos sonhos, um carro novo ou uma promoção no trabalho. Elas relataram como se sentiram algum tempo antes ou depois de o fato ocorrer. A sensação de inveja relatada era mais leve quando o cenário hipotético envolvia o passado.

3. Tem um lado bom

O resultado acima foi confirmado em outro experimento feito pela mesma equipe, mais real, que mediu os sentimentos das pessoas em relação a um amigo antes e depois de um Dia dos Namorados. Os pesquisadores constataram que a inveja dos presentes, flores e jantares que a outra pessoa ganhou foi mais intensa na véspera e no próprio dia, mas pouco incomodou no dia seguinte.

Segundo os pesquisadores, a inveja pode fazer mal, ao afetar a autoestima, mas também pode fazer bem, ao inspirar as pessoas a não ficarem paradas esperando por algo. Esse efeito positivo, segundo o estudo, não foi afetado pela mudança de “timing”. Portanto, colocar as coisas em perspectiva pode ser uma fórmula para regular emoções negativas. 

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Quem presencia uma cena de humilhação, por exemplo, pode passar a tratar o alvo da agressão de forma ofensiva - iStock

4. Satisfação quando alguém se dá mal pode ser contagiosa

Um outro estudo, na mesma linha, pesquisou como as pessoas reagem quando alguém não se sai bem em uma situação. Por acaso, você já ouviu a expressão “schadenfreude”? Esse termo, que em alemão significa “alegria pelo dano”, é usado para descrever a satisfação que algumas pessoas sentem quando algo de ruim acontece com um colega, conhecido, amigo ou até com um famoso. De novo, trata-se de um sentimento carregado de inveja e tem sido descrito como fenômeno comum em ambientes muito competitivos, como no corporativo, nos quais a desgraça de uns pode ser a oportunidades para outros.

Pesquisadores das universidades de Zurique, na Suíça, de Jiao Tong, na China, e de Cingapura decidiram investigar o desenvolvimento e as consequências desse sentimento nada nobre. E descobriram que o “schadenfreude” é contagioso. Sim, é isso mesmo. Até mesmo as pessoas tidas como empáticas, que se importam com o bem-estar dos outros, podem acabar sentindo prazer com a adversidade alheia, se o ambiente for dominado por gente assim e as políticas de bonificação forem focadas no desempenho individual.

O estudo fez distinção entre o “schadenfreude” considerado justo, quando as pessoas acham que a pessoa mereceu o que recebeu, daquele ambivalente, ou seja, o prazer seguido de uma sensação de culpa. Não importa, segundo os pesquisadores, os dois são ruins.

Segundo os pesquisadores, o problema em particular do “schadenfreude” é que ele pode desencadear ciclos de maus-tratos. Assim, quem presencia uma cena de humilhação, por exemplo, pode passar a tratar o alvo da agressão de forma ofensiva, e a satisfação gera um círculo vicioso. E o mais perigoso, em determinados ambientes, esse comportamento agressivo pode acabar virando norma, segundo os resultados publicados no periódico Academy of Management Review.

O conselho dos pesquisadores aos gestores é o de evitarem esse tipo de clima, promovendo diálogo e incentivos baseados no trabalho em equipe e não individual. Sem falar que um ambiente inclusivo também pode ajudar a reduzir sentimentos de inveja e ressentimento. É sempre bom enfatizar que o bullying no ambiente de trabalho representa maior risco de depressão, ansiedade e esgotamento físico e mental. E, claro, tudo isso afeta a produtividade, negativamente.

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