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Homens preocupados são mais propensos a doenças cardiometabólicas

Indivíduos com altos níveis neuróticos são mais propensos a experimentarem emoções negativas - iStock
Indivíduos com altos níveis neuróticos são mais propensos a experimentarem emoções negativas - iStock

Redação Publicado em 24/01/2022, às 15h30

Homens de meia-idade que estão ansiosos ou se preocupam mais podem enfrentar um maior risco biológico de desenvolver doenças cardíacas, derrame e diabetes tipo 2 – também chamado de doença cardiometabólica – à medida que envelhecem. 

Essa é a principal descoberta de um novo estudo publicado no Journal of the American Heart Association, periódico oficial da American Heart Association. Segundo os pesquisadores, os achados indicam que níveis mais altos de ansiedade ou de preocupação entre os homens estão ligados a processos biológicos que podem dar origem a doenças cardíacas e condições metabólicas mais cedo na vida.

Ansiedade e preocupação

Para acompanhar a relação entre a ansiedade e os fatores de risco de doenças cardiometabólicas ao longo do tempo, a equipe analisou dados de um estudo longitudinal de 1961 sobre os processos de envelhecimento em homens. Entre os participantes estavam veteranos e não veteranos de guerra, sendo a maioria brancos (97%) e com média de idade de 53 anos. 

Todos foram submetidos a avaliações básicas de neuroticismo (um traço de personalidade caracterizado por uma tendência a interpretar situações como ameaçadoras e/ou estressantes) e preocupação. Além disso, na época do levantamento, os homens não apresentavam doenças cardiovasculares ou câncer.  

Vale lembrar que indivíduos com altos níveis neuróticos são mais propensos a experimentarem emoções negativas – como medo, ansiedade, tristeza e raiva – com mais intensidade e mais frequência. 

a preocupação refere-se às tentativas de resolução de problemas em torno de um problema cujo resultado futuro é incerto e potencialmente positivo ou negativo. A preocupação pode ser adaptativa, por exemplo, quando nos leva a soluções construtivas. No entanto, ela também pode ser insalubre, especialmente quando se torna incontrolável e interfere no funcionamento diário.

Confira:

Maiores chances de doença cardiometabólica

Após as avaliações da linha de base, os participantes realizaram exames físicos e de sangue a cada três a cinco anos até que morressem ou desistissem do estudo. A equipe de pesquisa utilizou dados de acompanhamento até 2015.

Durante as consultas foram medidos sete fatores de risco cardiometabólicos: pressão arterial sistólica (número superior); pressão arterial diastólica (número inferior); colesterol total; triglicérides; obesidade (avaliada pelo índice de massa corporal); níveis de açúcar no sangue em jejum; e a taxa de sedimentação eritrócito (ESR), um marcador de inflamação.

O fator de risco foi considerado alto se os resultados dos testes fossem maiores do que o ponto de corte estabelecido pelas diretrizes nacionais. Outra questão levada em consideração foi se o participante estava tomando algum medicamento para gerenciar determinado fator de risco (como remédios para redução do colesterol).  

Entre as principais descobertas estão:

  • Entre 33 e 65 anos, o número médio de fatores de alto risco cardiometabólicos aumentou cerca de um por década, com uma média de 3,8 fatores de risco aos 65 anos, seguido por um aumento mais lento por década após essa faixa etária;
  • Em todas as idades, os participantes com maiores níveis de neuróticos apresentaram maior número de fatores cardiometabólicos de alto risco;
  • Níveis mais altos de neuroticismo foram associados a uma probabilidade 13% maior de ter seis ou mais fatores de risco para doenças cardiometabólicas após ajuste para características demográficas (como renda e educação) e histórico familiar de doença cardíaca; 
  • Níveis mais elevados de preocupação foram associados a uma probabilidade 10% maior de ter seis ou mais fatores de risco para doenças cardiometabólicas após ajuste para características demográficas.

Os pesquisadores explicam que a pesquisa revelou um aumento do risco de desenvolver doenças cardiometabólicas à medida que os homens envelhecem, de 30 a 80 anos, independente dos níveis de ansiedade. 

Em contrapartida, aqueles com níveis mais elevados de ansiedade e preocupação consistentemente tinham maior probabilidade de desenvolver doença cardiometabólica ao longo do tempo quando comparados aos menos ansiosos e preocupados. 

Segundo a equipe, embora não esteja claro se o tratamento de ansiedade e preocupação é capaz de reduzir o risco, indivíduos ansiosos e muito preocupados devem prestar uma atenção maior à sua saúde cardiometabólica, como fazer exames de rotina, gerenciar seus níveis de risco (tomar medicamentos para pressão alta e manter um peso saudável, por exemplo). 

Para os pesquisadores, seria importante que estudos futuros avaliassem se essas associações também podem ser observadas entre mulheres, pessoas de diversos grupos raciais e étnicos, e em amostras mais socioeconomicamente variadas.

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