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É possível zerar doenças genéticas com alimentação? Especialista explica

Veja o que o especialista explica - iStock
Veja o que o especialista explica - iStock

Giulia Poltronieri Publicado em 04/03/2022, às 14h00

Recentemente, Maira Cardi criou uma polêmica nas redes sociais ao falar, durante uma entrevista, que era possível zerar doenças genéticas com alimentação. Segundo a influenciadora, ela e o marido, Arthur Aguiar, fizeram uma dieta específica com o objetivo de gerar uma “modulação epigenética” antes de engravidar e, dessa forma, evitar que a filha nascesse com genes de doenças.

“Eu fiz modulação epigenética antes de engravidar. Muita gente não sabe o que é, então, vou fazer uma explicação leve. É quando você e seu marido mudam a alimentação antes da gravidez para zerar a genética de doenças”, disse. “Câncer, diabetes… Qualquer doença vem zerada. Aí, o seu filho nasce sem nenhum gene ruim de doenças. São 6 meses com essa alimentação. É muito maravilhoso”, complementou.

Confira:

Mas será que isso é mesmo possível? David Schlesinger, médico geneticista e CEO da Mendelics dá as respostas!

Mas, primeiro, o que é modulação epigenética?

Segundo o médico, a epigenética é a área da genética que estuda os mecanismos de expressão gênica que não envolvem modificações na sequência do DNA. A modulação epigenética altera esses mecanismos de controle da expressão gênica. 

“Esse é um processo natural, que permite que, mesmo tendo o mesmo DNA, as células do nosso corpo sejam diferentes. Contudo, fatores ambientais, como tabaco, pesticidas e metais pesados, são capazes de alterar o padrão epigenético e potencializar o surgimento de doenças”, explica David. “Muitas alterações epigenéticas são passadas de uma célula para outra pelo processo de divisão celular e podem ser transmitidas para os filhos. Porém, essa modulação geralmente ocorre em alguns genes específicos, não em todos os genes, e também não é capaz de corrigir mutações causadoras de doenças”.

É realmente possível “zerar a genética 'ruim'”?

David explica que não é possível zerar a genética “ruim”. “As alterações genéticas que são hereditárias (transmitidas de pais para filhos) ou mesmo aquelas que são adquiridas ao longo da vida de uma pessoa não podem ser corrigidas por simples mudanças de hábitos ou estilo de vida.”

O especialista cita que muitas doenças comuns, como diabetes e algumas doenças cardiovasculares, são causadas por um conjunto de fatores, como genética, ambiente e estilo de vida. “Nesses casos, hábitos saudáveis podem ajudar a diminuir o risco de desenvolver essas doenças, mesmo se houver uma predisposição genética aumentada”, diz ele, mas destaca ainda que a alteração genética permanecerá no DNA, pois não há como corrigi-la sem o uso de medicamentos e terapia gênica específicos para isso.

“Há ainda doenças com forte contribuição da genética em seu desenvolvimento. Nesses casos, as medidas de redução de risco podem envolver terapias e tratamentos, e devem sempre ser acompanhadas por um médico”, ressalta David Schlesinger. 

Por outro lado, o médico comenta que existe uma abordagem terapêutica, chamada terapia gênica, que tem como objetivo corrigir uma alteração genética que esteja causando uma doença em um paciente. Porém, essa abordagem ainda está principalmente no campo da pesquisa e só está disponível para algumas doenças. 

O que determina se um bebê vai nascer com algum tipo de doença ou tem a predisposição para tê-la no futuro?

Se houver alterações no DNA do bebê, ele pode ter um risco aumentado de desenvolver uma doença ou até mesmo já nascer com ela.

Essas alterações genéticas podem ser herdadas dos pais, no momento de formação dos gametas, ou podem surgir pela primeira vez no bebê,  durante o desenvolvimento embrionário. 

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