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“Doença do silicone” existe? Falta comprovação científica, diz médico

A doença não tem sintomas específicos nas mamas, eles são generalizados, semelhantes aos de doenças autoimunes - iStock
A doença não tem sintomas específicos nas mamas, eles são generalizados, semelhantes aos de doenças autoimunes - iStock

Cármen Guaresemin Publicado em 23/05/2022, às 10h00

Nos últimos dois anos, temos visto várias mulheres comentando que estão fazendo o explante de silicone, não só no Brasil, mas em outros países. O motivo, segundo elas, são sintomas que surgem logo após fazerem a reconstrução das mamas ou o aumento mamário com implantes de silicone. Entre eles estão fadiga, dores nas articulações e nos músculos, perda de cabelo e alterações de peso. No exterior, o nome dado ao problema é “Breast Implant Illness” (BII), por aqui ela é chamada de “doença do silicone”.

Segundo a Sociedade Brasileira e Cirurgia Plástica (SBCP):

Poucos dispositivos médicos foram tão estudados ao longo das últimas décadas como o implante de silicone e, até o presente momento, há evidência científica que ampara a utilização deles com segurança. Ao mesmo tempo, os sintomas relatados pelas pacientes precisam ser considerados com a maior seriedade, respeito e estudos”.

Nos Estados Unidos, a FDA (Food and Drug Administration), equivalente à Anvisa, informou que o BII não é reconhecido como diagnóstico médico formal e não há testes específicos ou critérios reconhecidos para sua definição. A SBCP adotou a mesma postura e enfatiza que, até o momento, não há evidências científicas definitivas que sustentem a ligação entre implantes mamários e a “doença do silicone”.

Os médicos argumentam que as pacientes se autodiagnosticam sem levar em conta que os sintomas podem ser multifatoriais ou ainda relacionados a outras doenças, como as autoimunes. E que o tema se propagou entre elas por causa das redes sociais. Segundo a SBCP, o Brasil ainda não tem números consolidados sobre o procedimento.

Entrevistamos o cirurgião plástico Paolo Rubez, Mestre em Cirurgia Plástica pela Escola Paulista de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) para entender melhor o problema:

Por que as cirurgias de explantes de silicone aumentaram tanto ultimamente?
As cirurgias de explante de silicone das mamas aumentaram muito ultimamente, sobretudo pela divulgação da chamada “doença do silicone” em mídias sociais e reportagens.

A retirada das próteses tem relação com a chamada “doença do silicone”?
Sim, como falei, o principal motivo pelo aumento na busca pelo explante das próteses é a “doença do silicone”. Acredita-se que seja uma patologia autoimune que uma porcentagem mínima de pessoas pode desenvolver ao possuir um material que não é natural do organismo, ou seja, um material aloplástico. Isto pode ocorrer também com o uso de outros tipos de próteses, como marcapassos, e injeção de produtos como o ácido hialurônico. É comum que estas pacientes já possuam alguma outra doença autoimune, como patologias da tireoide, por exemplo.

Quais são os sintomas da “doença do silicone”?
A “doença do silicone” não apresenta nenhum sintoma específico nas mamas. São sintomas generalizados, semelhantes a outras doenças autoimunes do corpo, como cansaço, dores em articulações, queda de cabelo, depressão, insônia e alterações no fluxo intestinal. Por isto, ainda não há uma comprovação científica de que são as próteses que, de fato, causam esses sintomas nas mulheres. Em geral, o explante é um procedimento de exclusão realizado em último caso para se tentar a melhora do quadro.

Muito tem se falado sobre essa doença. No entanto, ainda falta comprovação científica de que são as próteses que, de fato, estariam causando esses sintomas nas mulheres. A porcentagem de pacientes que apresentam esses sintomas é semelhante na população que tem próteses e na população que não tem. Portanto, não necessariamente essa retirada vai solucionar os sintomas. É preciso estar tudo bem esclarecido entre a paciente e o médico antes do procedimento.

O que o senhor ouve quando elas pedem para colocar silicone?
As mulheres que buscam a colocação de silicone desejam um maior volume para as mamas e uma melhora no formato. Elas se queixam de precisar usar sutiãs com bojo e ficam desconfortáveis com decotes, biquínis e roupas que evidenciam mais as mamas.

E o que ouve quando elas querem tirar?
Há sobretudo dois motivos principais para quererem retirar as próteses. Um deles é porque desejam mamas menores e por não desejarem mais ter a prótese. O outro motivo principal é pelo receio de ter, ou por sintomas da, “doença do silicone”. Este último é o que tem levado mais as mulheres a procurarem pelo explante ultimamente.

A partir de qual idade é indicado (ou é possível) colocar o implante?
As próteses de mamas são indicadas após o desenvolvimento da mulher estar completo. Como, por exemplo, após ela ter menstruado e as mamas não estarem mais mudando de forma e volume. Isso ocorre em torno dos 17 anos.

Há casos em que é uma necessidade e não algo mais ligado à estética?
A colocação das próteses de mamas geralmente está relacionada à estética, no entanto, há também os casos de reconstrução mamária após a mulher ter se tratado de câncer de mama. Nestes casos, as mamas foram retiradas, parcial ou totalmente, e se usa as próteses para recuperar formato e volume, uma vez que sua ausência pode ter um impacto psicológico negativo para as mulheres.

As próteses precisam ser trocadas ao longo dos anos? Qual o intervalo?
As próteses de mamas atuais apresentam boa qualidade, porém, com o passar dos anos, o organismo cria uma cápsula ao redor delas, isolando-as, como uma defesa do corpo a um objeto externo. Isto ocorre com o uso de qualquer prótese, como em marca-passos para o coração. Com o tempo, esta cápsula das mamas vai se tornando mais endurecida e ocorre a “contratura capsular”. As mamas se tornam mais endurecidas, alteram o formato e podem ficar doloridas. Neste momento é necessária a troca das próteses e a retirada destas cápsulas. Isto vai ocorrer na grande maioria das pessoas e, normalmente, se dá após dez anos, podendo ocorrer antes ou depois deste período.

Sabe falar se este procedimento pode ser feito pelo SUS?
A colocação de próteses de mamas por motivos puramente estéticos não é realizada pelo SUS, a não ser dentro de algum protocolo de pesquisa específico, o que é raro. No entanto, o SUS dá cobertura para a colocação de próteses nos casos de reconstrução mamária.

Quanto tempo demora para se conseguir?
Nos casos de reconstrução mamária, ela pode ser feita no mesmo momento da cirurgia de retirada do câncer ou, posteriormente, ao término do tratamento. Depende da conduta para cada caso e da indicação do profissional.

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