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Dermatite atópica: nova descoberta pode ajudar a melhorar o tratamento

A causa exata da dermatite atópica ainda é desconhecida; especialistas acreditam que haja uma base genética - iStock
A causa exata da dermatite atópica ainda é desconhecida; especialistas acreditam que haja uma base genética - iStock

Redação Publicado em 18/05/2022, às 10h00

Novo estudo publicado na revista Science Translational Medicine apresenta uma nova visão sobre como a dermatite atópica se desenvolve. A pesquisa examinou o aparecimento de lesões em camundongos geneticamente modificados, pois elas eram semelhantes à forma como a dermatite atópica se apresenta em humanos. Isso pode levar a um tratamento mais eficaz contra a condição. 

Pesquisadores da Universidade da Pensilvânia e da Universidade do Tennessee, ambas nos Estados Unidos, fizeram análise de RNA nos camundongos modificados e em amostras humanas e encontraram algumas semelhanças. RNA, ou ácido ribonucleico, é encontrado em todas as células vivas. É o mensageiro que carrega as instruções do DNA.

O corpo humano usa RNA para construir células, responder a desafios imunológicos e transportar proteínas de uma parte da célula para outra. Os pesquisadores geralmente realizam análises de RNA para estudar a expressão gênica. É uma ferramenta essencial para o diagnóstico molecular, como avaliar o câncer e detectar vírus como o HIV. Usando a análise de RNA, os pesquisadores criaram um tratamento com anticorpos monoclonais e observaram melhorias nos camundongos.

Estudo de fundo

Kang Ko, um pesquisador da Universidade da Pensilvânia, examinou a sinalização inflamatória em camundongos quando notou algo incomum. Aqueles com os quais ele estava trabalhando foram projetados para não ter o gene Ikkb, responsável pela ativação da sinalização NF-KB, um fator de transcrição inflamatório mestre que regula os genes de resposta imune, de acordo com os autores do estudo.

Ko e os outros pesquisadores ficaram surpresos quando os camundongos desenvolveram lesões, dado o funcionamento do NF-KB. Os autores do estudo afirmaram que a pele afetada demonstrou perda de pelo, espessamento, descamação, eritema ou crostas focais com formação de cascas. Isso foi interessante para eles porque essas ulcerações pareciam um evento inflamatório, mas, efetivamente, elas desativaram a atividade do NF-KB, o que deve ter reduzido a inflamação. “Então isso foi um paradoxo”, admitiram.

Ko notificou John Seykora, professor de dermatologia da Perelman School of Medicine, também da Universidade da Pensilvânia, sobre as descobertas. Eles, então, se uniram aos pesquisadores da Universidade do Tennessee para continuar o estudo.

Análise de RNA 

Os pesquisadores decidiram que o próximo passo para aprender por que as lesões de pele estavam presentes, era fazer uma análise de RNA nos roedores. Por meio dela, os pesquisadores aprenderam que os fibroblastos contribuíram para o desenvolvimento da lesão. Fibroblastos são células que fazem parte da família de tecidos conjuntivos que ajudam a manter a estrutura dos tecidos. 

Nos fibroblastos sem o gene Ikkb, um fator de transcrição de domínio chamado CEBPB foi ativado. Já a CCL11, uma quimiocina que contribui para a inflamação, também era muito expressiva. Em seguida, os cientistas compararam a análise de RNA com uma análise de amostras humanas e encontraram resultados semelhantes. Os autores escreveram que a análise de RNA sugere um papel potencial dessas células na patogênese de distúrbios inflamatórios da pele. Eles desenvolveram o mecanismo no camundongo e mostraram que muito disso também se aplicava ao tecido humano.

Potencial para novos tratamentos

Este estudo fornece informações sobre como a dermatite atópica se desenvolve, mas também tem o potencial de levar ao desenvolvimento de novas terapias. Os pesquisadores usaram um tratamento com anticorpos monoclonais direcionados ao CCL11 em camundongos de duas semanas de idade, o que reduziu a resposta à inflamação.

Este estudo destaca um caminho molecular anteriormente não reconhecido nas células da pele que pode levar a uma resposta imune. Também foi observado como a desregulação nas células dos fibroblastos recrutava células inflamatórias. Isso ocorreu em laboratório com modelos de camundongos e humanos para dermatite atópica. Além disso, a inibição de CCL11 no modelo de camundongo foi capaz de diminuir o tipo de inflamação observada na dermatite atópica. 

À medida que os pesquisadores continuam a desvendar a causa e o mecanismo de ação da dermatite atópica e buscando os melhores tratamentos, chamam a atenção para uma peça do quebra-cabeça não reconhecida anteriormente. Assim, o CCL11 pode se tornar uma opção para drogas e terapias destinadas a tratar e curar a dermatite atópica.

Outros especialistas comentaram que, neste estudo, camundongos que tinham uma deleção genética específica – Ikkb – eram propensos à dermatite atópica apesar do controle de fatores ambientais. Esses novos dados que mostram o papel do CCL11 na dermatite atópica também pode ser um caminho importante no desenvolvimento de novos tratamentos.

O que é dermatite atópica

Trata-se de uma condição comum da pele que afeta crianças e adultos e é considerada uma doença inflamatória. Alguns sinais e sintomas da dermatite atópica, também conhecida como eczema, são pele seca, vermelha, escamosa e com coceira; pele com líquido escorrendo ou vazando. Essa condição, atualmente, não pode ser curada, mas existem alguns tratamentos disponíveis que podem ajudar a controlar a gravidade da condição.

A causa exata da dermatite atópica ainda é desconhecida, mas os médicos acreditam que uma combinação de pele seca e irritável com um mau funcionamento no sistema imunológico esteja entre as causas mais prováveis. A maioria dos especialistas também acredita que a dermatite atópica tenha uma base genética.

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