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Covid leve pode causar fadiga mental temporária, sugere estudo

Memória e capacidade de manter a atenção podem ser afetadas por alguns meses após uma infecção branda - iStock
Memória e capacidade de manter a atenção podem ser afetadas por alguns meses após uma infecção branda - iStock

Redação Publicado em 21/01/2022, às 18h13

Jovens adultos podem ter pior desempenho em testes de memória e atenção alguns meses após uma "Covid leve", ou seja, com poucos sintomas. É o que mostra um pequeno estudo que  pode levar à confirmação de que a fadiga mental, também conhecida como “fog” ou "nevoeiro mental", também afeta casos brandos da infecção. 

Os resultados indicam que a maioria das habilidades cognitivas testadas, como memória de trabalho (que usamos para armazenar informações temporariamente), função executiva e planejamento, não se alterou após a doença. Mas os pacientes que tiveram Covid apresentaram memória episódica (que nos permite lembrar de eventos autobiográficos) significativamente mais fraca por até 6 meses após a infecção, em relação a pessoas que não tiveram a doença. Além disso, tiveram um declínio na atenção sustentada por até 9 meses.

A boa notícia é que esses déficits de memória e concentração não foram significativamente diferentes do normal após 6 ou 9 meses de acompanhamento, sugerindo que as pessoas se recuperam com o tempo. O trabalho foi coordenado por Sija Zhao, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, e publicado esta semana no periódico Brain Communications.

Segundo os pesquisadores, esses déficits cognitivos observados não podem ser explicados pela idade dos participantes, nível socioeconômico, nível educacional, situação profissional, histórico de tabagismo ou familiaridade com os testes. 

Segundo Zhao, as descobertas indicam que prejuízos na capacidade cognitiva não se limitam a pacientes que tiveram manifestações neurológicas prolongadas após a infecção, e podem estar presentes em quem teve formas leves e nem imagina ter ficado com sequelas.  

Confira:

Pacientes com 29 anos, em média

O estudo avaliou adultos com idade média de 29 anos. Do total, 53 participantes afirmaram ter sofrido de Covid leve (confirmado pelo teste de PCR) e 83 relataram não ter tido a infecção. Pessoas que foram hospitalizadas pela doença ou apresentaram sintomas que afetaram sua vida diária foram excluídas do trabalho, assim como pessoas com sintomas graves e duradouros.

Todos foram recrutados da plataforma de pesquisa online Prolific, onde o estudo foi anunciado como um jogo para testar o desempenho mental das pessoas. Os pacientes com Covid participaram em média 163 dias após o diagnóstico, e cerca de 43% eram mulheres.

Os participantes preencheram questionários e foram testados em relação a atenção sustentada, memória, controle motor, planejamento, raciocínio semântico, pensamento espacial e atenção espacial-visual. Após cada minuto de teste, eles tinham que relatar seu nível de fadiga e motivação em uma escala analógica visual.

As medidas de fadiga, esquecimento, motivação, anormalidade do sono, depressão e níveis de ansiedade relatados pelos participantes não foram estatisticamente diferentes entre pacientes com Covid e controles pareados por idade.

Mas as pessoas que foram infectadas pela Sars-CoV-2 tiveram declínio na atenção significativamente maior e sentiram fadiga mais rápido em uma tarefa que exigia concentração sustentada por 9 minutos. Eles também tiveram uma redução de memória episódica, comparável ao de pessoas saudáveis ​​na faixa dos 60 anos. Esses declínios foram mais intensos quanto mais próximo havia sido o diagnóstico de Covid.

A análise teve algumas limitações, como não levar em conta estilo de vida e status social, que são importantes para avaliar a função cognitiva. A amostra também envolvia apenas adultos mais jovens, por isso não dá para generalizar os resultados. Apesar de serem necessários mais estudos para confirmar os resultados, eles podem indicar que formas mais leves de Covid também afetam o cérebro, ainda que temporariamente.

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