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Covid-19 grave pode trazer danos cerebrais maiores do que Alzheimer

As manifestações neurológicas ocorrem comumente em pessoas hospitalizadas com Covid-19 - iStock
As manifestações neurológicas ocorrem comumente em pessoas hospitalizadas com Covid-19 - iStock

Redação Publicado em 24/01/2022, às 10h00

Covid-19, a doença que uma infecção pelo Sars-CoV-2 causa, geralmente traz sintomas leves do trato respiratório superior. No entanto, alguns indivíduos podem apresentar doenças graves que requerem hospitalização. Isso pode ocorrer devido a pneumonia e danos nos pulmões, causando insuficiência respiratória.

Além disso, as manifestações neurológicas ocorrem comumente em pessoas hospitalizadas com Covid-19. Distúrbios neurológicos podem incluir encefalopatia, convulsões, acidente vascular cerebral, encefalite, síndrome de Guillain-Barré (consequência de uma infecção, comprometendo o sistema imune e nervoso), e encefalomielite desmielinizante aguda (perda de uma estrutura dos neurônios, a bainha de mielina, com inflamação do encéfalo e da medula espinal).

Pesquisadores da Grossman School of Medicine da Universidade de Nova York (NYU) conduziram um estudo que investigou se pessoas com Covid-19 com complicações neurológicas de início recente, durante a hospitalização, tinham marcadores sanguíneos elevados indicando danos neurológicos.

Os pesquisadores publicaram os resultados do estudo na revista Alzheimer’s and Dementia. Thomas Wisniewski, coautor do estudo, professor de neurologia, patologia e psiquiatria e diretor do Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da NYU e do Centro de Neurologia Cognitiva afirmou que está claro que o vírus (Sars-CoV-2) tem uma propensão para induzir danos vasculares, visando as células endoteliais e causando ruptura da barreira hematoencefálica, além de induzir neuroinflamação generalizada. Citocinas como interleucina 6 e interleucina 1 são muito elevadas em indivíduos com Covid-19, e são citocinas que impulsionam a neurodegeneração e a doença de Alzheimer.

As citocinas são proteínas que ajudam as células do corpo a se comunicar. Wisniewski acrescentou que, no estudo, os pesquisadores ficaram interessados em observar esses tipos de biomarcadores, já que são os que acompanham no centro de pesquisa da doença de Alzheimer para observar a progressão da patologia relacionada à doença e outros distúrbios neurodegenerativos.

Biomarcadores neurodegenerativos

O total de tau e ptau181 são indicadores de danos nos neurônios. Seus níveis aumentam à medida que a doença de Alzheimer progride. Nela, proteínas anormais formam emaranhados, bloqueando a comunicação entre as células cerebrais. Ubiquitina C-terminal hidrolase L1 (UCHL1) é uma enzima que quebra proteínas desnecessárias nas células cerebrais. Lesões cerebrais ou doenças neurodegenerativas, como Alzheimer, fazem com que os níveis de UCHL1 aumentem.

Aumento da proteína ácida fibrilar glial (GFAP) indica danos às células gliais; estas ajudam a manter a saúde das células cerebrais e da barreira hematoencefálica, que filtra as substâncias tóxicas. A cadeia leve de neurofilamento (NfL) mede o dano aos axônios de neurônios mielinizados. O axônio é a parte do neurônio que conduz eletricidade, e a mielina é o isolamento que envolve o neurônio.

Amiloide-β (Aβ) 40 e 42 são proteínas que se acumulam e causam a formação de placas amiloides na DA (doença de Alzheimer), que interrompem a função e a comunicação das células cerebrais. Por último, a razão ptau181 para Aβ42 de uma pessoa pode identificar estágios iniciais da doença de Alzheimer. Os investigadores também tentaram determinar a associação de biomarcadores aumentados com taxas de mortalidade domiciliar e hospitalar. Para avaliar o nível de lesão, os pesquisadores compararam os níveis de biomarcadores séricos de um grupo-controle de participantes que tinham cognição “normal”, comprometimento cognitivo leve, biomarcadores de pessoas durante a hospitalização com Covid-19 e novos achados neurológicos.

Eventos neurológicos em casos agudos de Covid 19

Os pesquisadores realizaram uma análise retrospectiva dos participantes inscritos no Estudo de Eventos Neurológicos e Psiquiátricos em Covid-19 Agudo, que examinou amostras de soro que as pessoas cederam durante a hospitalização por Covid-19. Wisniewski explicou que foram excluídos especificamente os pacientes com distúrbio cognitivo preexistente, qualquer tipo de demência ou comprometimento cognitivo leve, para evitar a turvação dos resultados.

Já o SNaP Acute Covid foi um estudo prospectivo de 4.491 participantes realizado em quatro hospitais de Nova York entre 10 de março e 20 de maio de 2020, que avaliou o desenvolvimento de novos eventos neurológicos durante a internação aguda por Covid-19.

O grupo de controle não Covid compreendeu amostras de sangue da coorte clínica principal do Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer da NYU, armazenadas antes de 1º de janeiro de 2020. Essa foi a data dos primeiros casos relatados na cidade de Nova York. Os pesquisadores usaram ferramentas de testes validadas para estratificar os participantes do controle em três subgrupos: funcionamento cognitivo normal, comprometimento cognitivo leve e doença de Alzheimer.

O estudo mediu marcadores sanguíneos usando uma metodologia de teste ultrassensível chamada tecnologia de matriz de molécula única. O grupo Covid-19 consistia em 251 participantes com idade média de 71 anos, 63% deles do sexo masculino. Havia 161 participantes no grupo de controle com idade média de 71 anos. Os participantes do grupo de controle eram 35% do sexo masculino. As complicações neurológicas mais comuns incluíram encefalopatia metabólica tóxica (EMT) em 63% dos participantes e lesão cerebral devido à redução de oxigênio ou fluxo sanguíneo em 46%.

Descobertas de biomarcadores

A gravidade da Covid-19 se correlacionou mais fortemente com os níveis totais de tau, ptau181 e NfL. Níveis mais elevados de GFAP e pTau181/Aβ-42 foram associados a um risco significativamente aumentado de morte durante a hospitalização. Os resultados mostraram que níveis elevados de tau total, NfL e GFAP corresponderam a taxas reduzidas de alta para casa.

Os participantes com Covid-19 que experimentaram novos eventos neurológicos durante a hospitalização apresentaram tau total significativamente mais alto, pTau181/Aβ-42, NfL e UCHL1, com os níveis mais altos ocorrendo naqueles com encelopatia metabólica tóxica (EMT). Os participantes com Covid-19 tiveram um NfL 179% maior, GFAP 73% maior e UCHL1 13% maior do que o grupo da doença de Alzheimer.

Wisniewski comentou que encontraram na pesquisa elevações muito acentuadas desses sete biomarcadores, indicando a presença significativa de neurodegeneração, morte neuronal e gliose. Com neurodegeneração acentuada, neuroinflamação e – pelo menos em algum momento – elevação dos biomarcadores da doença de Alzheimer, cada um correlacionado com a presença de doença neurológica e a gravidade da infecção, assim como o resultado.

Já Braman afirmou que uma limitação do estudo foi apenas analisar pacientes hospitalizados, então ainda não está claro se esses biomarcadores podem estar presentes em pacientes com sintomas menos graves de Covid-19.Pesquisas futuras seriam necessárias para entender a duração desses efeitos e o quanto eles se relacionam com déficits cognitivos reais.

Wisniewski concordou: “Estamos acompanhando esses pacientes há um ano e seis meses e houve a persistência da disfunção cognitiva em até 50% deles. Por isso, é importante fazer o acompanhamento. Talvez os achados de biomarcadores falem de um risco aumentado de distúrbios neurodegenerativos subsequentes nessa população”.

Fonte: Medical News Today

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