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Calcinha absorvente: veja prós, contras e dicas para não ter problemas

A calcinha absorvente é uma alternativa ecológica com muitos prós e algumas desvantagens - iStock
A calcinha absorvente é uma alternativa ecológica com muitos prós e algumas desvantagens - iStock

Calcinhas absorventes viraram um sucesso entre mulheres de diferentes idades. Depois do hype dos discos e copos menstruais, elas (finalmente) aprenderam que não há motivo algum para sentir nojo do sangue menstrual. E há razão de sobra para se preocupar com as ameaças que a poluição e as mudanças climáticas impõem à nossa saúde. 

A ideia de evitar o descarte de mais de 400 absorventes por ano nos já sobrecarregados lixões e aterros sanitários traz um enorme alívio à consciência. Apesar de esse tipo de calcinha ser mais caro, a alternativa gera economia a longo prazo, e ainda pode trazer uma camada extra de segurança para quem tem fluxo menstrual intenso e já se cansou de manchar cadeiras e colchões (como a jornalista que escreve este texto). 

Conforto e saúde íntima são outras razões citadas por quem aderiu à moda. “Muitas mulheres têm uma reação alérgica e relatam coceira com o uso de absorventes descartáveis”, explica a ginecologista Lilian Fiorelli, especialista em uroginecologia pela USP (Universidade de São Paulo). As calcinhas absorventes são revestidas com algodão, o tecido menos alergênico que existe.

Confira: 

Além do risco de assaduras pelo atrito, o absorvente externo pode aumentar o calor e a umidade em uma região do corpo que já é assim por natureza, o que favorece aquele cheirinho desagradável e o crescimento de micro-organismos, como fungos ou bactérias. “Para uma mulher com a flora vaginal normal, não tem problema algum usá-lo alguns dias do mês, mas se a paciente sofre com candidíase de repetição, ou apresenta uma disbiose [alteração na flora], acabamos não indicando esse tipo de absorvente”.

O mercado hoje oferece calcinhas, maiôs e biquínis absorventes para todos os gostos e fluxos, e, inclusive, cuecas absorventes para homens trans (sim, menstruação não tem gênero). Há opções com tecido antimicrobiano ou até biodegradável. Para quem já fez ou pretende fazer o investimento, a médica faz algumas recomendações de uso e cuidado para preservar a saúde íntima e evitar "acidentes". Também consultamos as instruções de diferentes produtos* para conferir as dicas de manutenção. 

A calcinha absorvente dá conta do fluxo intenso?

Muitas marcas oferecem produtos diferentes para cada padrão de sangramento menstrual. “Mesmo assim, já ouvi pacientes reclamarem que tiveram vazamentos mesmo com as calcinhas para fluxo intenso”, comenta a ginecologista. Se isso acontecer, a recomendação é trocar a calcinha com bastante frequência, ou então associá-la a um absorvente interno, disco ou copo menstrual. Tudo bem vesti-la sozinha naqueles dias em que “deve descer”, mas é bom ter uma unidade extra à mão e, até que você se adapte à novidade, ir mais vezes ao banheiro para conferir se está tudo OK.

Tudo bem usar a calcinha absorvente o dia inteiro?

Em geral, os fabricantes recomendam o uso por no máximo 10 horas. Mas a verdade é que a definição vai depender muito do fluxo menstrual de cada usuária. Lilian Fiorelli acredita que trocar de seis em seis horas seja o mais adequado para a maioria das mulheres, mas quem tem fluxo intenso pode ter que fazer essa troca a cada quatro horas.

A médica acrescenta que as calcinhas absorventes têm fundo escuro, o que atrapalha na hora de checar se já há sangue menstrual suficiente para vazar (ainda mais para as mulheres acostumadas com os absorventes brancos de algodão). Por isso é preciso ficar atenta!

Para quem trabalha fora, pode ser um inconveniente ter que levar outras calcinhas na bolsa, e colocar as sujas num saquinho de plástico fechado até chegar em casa. Combinar métodos, portanto, pode ser uma solução que combina praticidade e consciência ecológica.

E usar todo dia, no lugar da calcinha comum, pode?

A alternativa também pode ser útil para mulheres com escape de urina eventual (por exemplo gestantes, quando a barriga começa a pressionar a bexiga) ou incontinência urinária. Se não for o seu caso, é melhor dar preferência às calcinhas comuns fora do período menstrual, de preferência as de algodão. Por conter uma camada impermeável, a calcinha absorvente não é tão "respirável" quanto a tradicional.

É preciso tomar algum cuidado especial ao lavar?

É importante seguir as instruções do fabricante, já que existem produtos com diferentes tecnologias. A médica sugere lavar à mão primeiro, para depois colocar na máquina com as outras roupas, e de preferência naqueles saquinhos para peças delicadas. Porém, segundo alguns fabricantes, a máquina de lavar pode reduzir um pouco a durabilidade do produto, que é de 50 lavagens (ou cerca de dois anos).

Água morna e sabonete neutro (aquele que você já sabe que não vai causar alergia) são tudo o que você precisa para lavar sua calcinha absorvente. Em outras palavras, é como lavar uma calcinha comum – acredite, o fato de absorver seu sangue menstrual não significa que o tecido tenha que ser esterilizado! Pelo contrário: deve-se evitar o uso de água quente e alvejantes, bem como amaciantes. Passar a ferro e colocar na secadora também pode ser contra-indicado (fique de olho nas instruções).

A dica mais importante de todas: é preciso deixar a calcinha absorvente secar muito bem antes de levá-la para a gaveta. Por causa da camada extra que absorve o fluxo, esse tipo de roupa íntima demora mais tempo para secar. “E se ela for guardada úmida pode facilitar o crescimento de micro-organismos”, avisa a médica. Assim, é preciso ter no mínimo duas ou três calcinhas do tipo, para que haja tempo suficiente para secar bem antes de usar de novo. Se seu fluxo for mais intenso, é bom ter umas cinco.

*Marcas consultadas pela reportagem: Fleurity, Yuper, Pantys, Triya e Hope

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin