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Confira alguns fatos sobre o bullying que talvez você desconheça

Probabilidade de quem sofreu bullying estar desempregado no futuro é de 35% - iStock
Probabilidade de quem sofreu bullying estar desempregado no futuro é de 35% - iStock

Redação Publicado em 09/06/2021, às 17h00

Você já deve saber que o bullying pode deixar marcas na vida de uma criança ou adolescente, certo? Que pode deflagrar depressão, ansiedade, abuso de substâncias e até levar a vítima a tentar suicídio. Mas estudos têm mostrado que ser vítima de agressões ou humilhações de forma crônica também pode trazer outras consequências graves, mas pouco conhecidas. Confira alguns exemplos:

1. Risco de desemprego no futuro

Um estudo divulgado na Inglaterra, em 2019, reforça a ideia de que os prejuízos do bullying vão muito além da vida escolar. Vítimas de intimidações não apenas são mais propensos a ter problemas de saúde mental, como também podem ter dificuldade para conseguir emprego quando adultos. Essas foram as conclusões a que chegaram pesquisadores das universidades de Lancaster, no Reino Unido, de Wollongong e de Sydney, na Austrália.

Foram analisados os dados de mais de 7.000 alunos britânicos de 14 a 16 anos, por mais de uma década. Cerca de metade dos estudantes relatou ter experimentado algum tipo de bullying na escola. Aqueles que sofreram intimidação na adolescência tiveram um aumento de 40% na extensão de problemas de saúde mental dez anos depois.

Além disso, a probabilidade de o jovem estar desempregado aumentou em cerca de 35%, e de ter um salário menor que o da média em cerca de 2%. Aqueles que sofreram intimidações de forma persistente ou violenta foram os que tiveram as piores consequências na vida adulta. Outros estudos já haviam mostrado que o bullying tem impacto no desempenho acadêmico dos alunos, porém, esta análise foi além, mostrando prejuízos quando os jovens já estavam no mercado de trabalho.

Confira:

2. Alterações no cérebro

Outra pesquisa, coordenada por Erin Burke Quinlan, do King`s College, de Londres, realizada na mesma época, descobriu que garotos humilhados ou agredidos de forma crônica ao longo da adolescência chegam aos 19 anos de idade com alterações visíveis na estrutura cerebral, o que aumenta o risco de transtornos mentais, segundo os pesquisadores.

Os efeitos psicológicos do bullying crônico são bem conhecidos pelos especialistas em saúde mental: depressão, baixa autoestima, abuso de drogas e até pensamentos sobre suicídio são problemas enfrentados pelas vítimas. Mas há indícios de que a humilhação também deixe marcas físicas: mais especificamente no cérebro.

A pesquisa foi realizada com 682 adolescentes de quatro países da Europa, que responderam a questionários em três épocas diferentes: aos 14, 16 e 19 anos de idade. Eles também foram submetidos a exames de escaneamento cerebral de alta resolução aos 14 e aos 19 anos. Do total da amostra, 36 deles foram classificados como vítimas crônicas de bullying, e apresentaram diferenças no volume do cérebro quando exames foram comparados aos de jovens que foram vítimas ocasionais, ou sem muita gravidade.

Além disso, esses adolescentes foram diagnosticados com níveis mais elevados de depressão, ansiedade e hiperatividade. Os resultados, publicados na revista Molecular Psychiatry, indicam que o bullying pode gerar uma redução no volume de duas áreas do cérebro, chamadas de putâmen e núcleo caudado, envolvidas em comportamentos como condicionamento, atenção, sensibilidade à recompensa, condicionamento, motivação e processamento emocional. Isso poderia explicar o aumento da ansiedade observado nos jovens com essas alterações.

Estudos recentes têm mostrado que, do fim da infância ao início da idade adulta, o cérebro passa por uma espécie de “poda” – é como se o tamanho fosse substituído por eficiência. Talvez por isso é que há mudanças de personalidade importantes adolescência, o que, até então, vinha sendo atribuído a mudanças hormonais. As consequências psicológicas do bullying já constituem razões suficientes para se investir em programas de prevenção. Mas imagens do cérebro podem ter um peso maior para quem ainda acha que esse é um problema de menor importância.

3. Maior ganho de peso

Muitas pessoas acham que uma criança ou adolescente que seja ridicularizado na escola, pelo excesso de peso, possa pensar em fazer um esforço para emagrecer. Porém, é possível que ocorra justamente o contrário. Jovens que sofreram bullying por causa dos quilos a mais ganharam 33% mais peso e 91% mais gordura a cada ano em relação a colegas que tinham o mesmo tipo físico, mas que não foram criticados ou humilhados por isso. As conclusões são de um estudo feito por pesquisadores dos Institutos Nacionais de Saúde, dos EUA, e publicado no periódico Pediatric Obesity.

Para ser realizado, o estudo contou com 110 garotos e garotas que tinham entre 11 e 12 anos de idade no início do acompanhamento, que durou 15 anos. Todos estavam acima do peso no início da pesquisa, e foram examinados e entrevistados uma vez por ano. Entre aqueles com excesso de peso, 62% relataram ter sido humilhados pelos colegas ao menos uma vez na vida.

A pesquisa, no entanto, não foi capaz de responder por que a tendência a ganhar peso foi maior entre eles. Porém, os autores têm duas hipóteses: que o estigma e a vergonha tenha levado os adolescentes a se engajar em comportamentos como comer compulsivamente ou evitar atividade física. Outra possível explicação é que o estresse gerado pelo bullying pode estimular a liberação do hormônio cortisol, que está associado ao ganho de peso e acúmulo de gordura na barriga.

A relação entre obesidade e bullying é bem conhecida. Diversos estudos já mostraram que adolescentes acima do peso são muito mais propensos a sofrer qualquer tipo de agressão na escola do que os colegas com peso normal. Também existem evidências de que a preocupação excessiva com a autoimagem pode levar as pessoas a terem uma relação complicada com a comida. 

Todos estes efeitos negativos justificam a necessidade de iniciativas para combater o bullying nas escolas, ou pelo menos as formas mais graves de intimidação, como exclusão, ameaças, xingamentos e violência. As consequências são para toda a sociedade, portanto o problema deve ser combatido por todos.

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