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Beijo de língua não é unanimidade, mostra estudo com 168 culturas

Imagem Beijo de língua não é unanimidade, mostra estudo com 168 culturas

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h30 - Atualizado às 23h56

Beijos de língua sempre foram considerados um termômetro para os níveis de intimidade e paixão dos casais. Tanto que foram imortalizados pelo cinema e são vistos diariamente nas novelas. Mas uma pesquisa mostra que essa forma de romantismo não prevalece em todas as culturas. Em alguns países, ela é considerada até um pouco nojenta.

O pesquisador Justin Garcia e sua equipe do Instituto Kinsey, da Universidade de Indiana (EUA), avaliou 168 diferentes culturas para compreender melhor como diferentes povos encaram o beijo de língua. Os resultados foram publicados na revista American Anthropologist.

O grupo descobriu que apenas 46% dos povos estudados costumam beijar seus parceiros românticos ou sexuais. Para os pesquisadores, foi uma surpresa descobrir que nem metade das culturas avaliadas tem esse costume, o que serve de alerta contra o nosso etnocentrismo cultural, ou seja, a mania de achar que todo o mundo se comporta como nós, ocidentais.

O beijo romântico foi mais prevalente no Oriente Médio, sendo presente nas dez culturas estudadas pelo grupo. Na América do Sul, a prática foi considerada comum em apenas quatro das 21 culturas analisadas.

Na América do Norte, apenas 55% dos grupos culturais avaliados adotam o costume. Na Ásia, a proporção encontrada foi de 73% e na Europa, de 70% (note que o “beijo francês” também não agrada a todos os europeus).

O mais curioso é que os pesquisadores não encontraram evidências de beijo romântico na América Central, incluindo os povos da Amazônia, nem mesmo na África Subsaariana e na Nova Guiné.

A pesquisa também identificou uma relação entre complexidade social e beijos: quanto mais complexa e estratificada uma sociedade é, maior a frequência do beijo romântico.

Garcia comenta, no artigo, que outros trabalhos já apontaram uma prevalência do beijo romântico de até 90% das sociedades. Mas nenhum deles havia utilizado métodos de adaptação transcultural, como a equipe dele.

O autor também esclarece que a evolução do beijo ainda não é algo muito claro para os pesquisadores. Alguns animais adotam comportamentos semelhantes, como os chimpanzés, por exemplo. Alguns especialistas defendem que beijar com a língua é uma forma de aprender mais sobre o parceiro, sentir se existe “química” com o outro e até avaliar sua saúde por meio do paladar e do olfato.

Trocar saliva – e também bactérias – seria importante para o equilíbrio dos micro-organismos que habitam a boca, como já sugeriram alguns pesquisadores. Mas também pode ser perigoso em sociedades em que não há higiene oral, por exemplo. Por tudo isso, os pesquisadores acreditam que ainda há muito para ser pesquisado para entender por que alguns povos se beijam e outros não.