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Assistir à TV pode aumentar risco de tromboembolismo venoso, diz estudo

Petiscar alimentos não nutritivos enquanto assiste à TV também pode contribuir para ocorrer o problema - iStock
Petiscar alimentos não nutritivos enquanto assiste à TV também pode contribuir para ocorrer o problema - iStock

Redação Publicado em 28/01/2022, às 18h00

Uma pesquisa indica que passar muito tempo em frente à TV pode aumentar o risco de tromboembolismo venoso, ou seja, a formação de um coágulo que prejudica o fluxo de sangue nas veias, e pode ser fatal. 

Pesquisadores da Finlândia, Gana e Reino Unido realizaram uma meta-análise de três estudos para analisar a ligação entre o tempo de uso da TV e a condição. Os resultados, publicados no European Journal of Preventive Cardiology, confirmam que o risco aumenta de acordo com o número de horas gastas em frente à telona.

Segundo o pesquisador Setor Kunutsor, principal autor do estudo, a descoberta destaca a necessidade de todos serem fisicamente ativos. E ele aconselha: se você quiser assistir à TV, faça pausas nos intervalos. Fique em pé e alongue-se a cada 30 minutos.

Para pessoas cujos trabalhos envolvem longas horas sentadas, que façam pausas regulares; elas também precisarão aumentar os níveis de atividade física, pois há evidências de que volumes maiores, de atividade moderada e vigorosa, podem reduzir, ou até eliminar, os riscos associados ao comportamento sedentário”, afirmou Kunutsor.

Meta-análise

De um total de 28 estudos que examinaram a relação entre assistir à televisão e o risco de  tromboembolismo venoso, os pesquisadores selecionaram três, publicados entre 2016 e 2021. Os trabalhos envolviam, ao todo, 131.421 participantes dos Estados Unidos e do Japão. No início das pesquisas, os participantes tinham entre 54 e 65 anos. O tempo médio de acompanhamento variou de 5,1 a 19,8 anos, e foram registradas 964 ocorrências de tromboembolismo venoso.

O tempo de TV foi obtido por autorrelatos, e foram levados em conta fatores de risco bem estabelecidos para a condição. A análise mostrou que quem passa mais de 4 horas por dia em frente à TV tem um risco 35% maior de sofrer um tromboembolismo venoso em relação a quem investe menos de 2,5 horas por dia nessa forma de lazer. A associação se manteve mesmo quando levados em conta fatores como idade, sexo, IMC (índice de massa corporal) e até a prática de atividade física.

Imobilização

Assistir a filmes e programas de TV envolve períodos de imobilização. E a inatividade física estimula fatores de risco para a formação de coágulos, como ganho de peso, hipertensão, aumento do colesterol, inflamação, viscosidade e agregação de plaquetas no sangue. Tudo isso atrapalha o trajeto de volta do sangue dos membros inferiores para o coração, processo conhecido como estase venosa.

Os pesquisadores também observaram que a mania de beliscar alimentos pouco nutritivos enquanto se assiste à TV também pode ter contribuído para um aumento do risco do tromboembolismo venoso, embora os estudos não tenham avaliado a dieta dos participantes. 

São muitos os fatores envolvidos no risco, como aspectos relacionados ao coração, ao metabolismo e aos níveis de inflamação. Porém, a estase venosa pode ser parte importante dessa equação complicada. Um único episódio de imobilidade prolongada com as pernas para baixo, como voos de longa distância – também pode elevar o risco de tromboembolismo venoso.

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Ficar muito tempo sentado também pode  levar a um AVC - iStock

A relação entre passar muito tempo sentado e o risco mais alto de problemas vasculares e maior risco de acidente vascular cerebral (AVC) também já foi feita em outros estudos. E isso não envolve apenas a TV – trabalhar na frente do computador sem pausas para se movimentar  também é um problema. 

É provável que a associação seja mais forte para quem pratica pouca atividade física, pois fazer exercícios pode reduzir os riscos de inflamação e de acidente vascular cerebral – embora o estudo não tenha examinado essa relação.

Ficar parado

Para os pesquisadores, portanto, os resultados também se aplicam a pessoas cujo trabalho envolve ficar parado por muito tempo. Esta é a razão pela qual alguns empregadores incentivam os funcionários a ficarem de pé e se movimentarem com mais regularidade. O uso de mesas para ficar de pé também virou moda em função disso. Vale lembrar que motoristas ônibus, condutores de metrô e trens etc., também ficam sentados por longos períodos sem interrupção.

Limitações do estudo

Especialistas que comentaram o estudo lembram que há fatores de confusão que não foram medidos pela pesquisa, como a dieta e os níveis de açúcar do sangue, que podem aumentar o nível de inflamação. Porém, de qualquer modo, passar muito tempo sentado não é algo recomendável. E, principalmente em tempos de Covid-19, muita gente passou a usar o computador para ver filmes, e não só a TV. 

Os autores reconhecem que o estudo teve limitações, como sua natureza observacional, e o fato de que os resultados não comprovarem causa e efeito. Por isso, eles admitem a necessidade de mais pesquisas nessa área. Também dizem que os dados sobre o tempo gasto na TV podem não ser totalmente precisos, pois foram relatados pelos participantes.

Os três estudos também contaram participantes mais velhos. Como a idade é um fator de risco para acidente vascular cerebral e as pessoas foram acompanhadas por períodos de 5 a 20 anos, é possível que isso tenha interferido no risco de coágulos sanguíneos, bem como o sexo dos participantes (sabe-se que mulheres têm propensão mais alta).

Também é possível que fazer pelo menos uma hora de atividade física de intensidade moderada todos os dias pode diminuir o risco aumentado tromboembolismo venoso. E isso não foi adequadamente examinado nos estudos analisados. Mas fica a dica: se você gosta de "maratonar", faça algumas pausas para caminhar, ou aproveite para fazer alguns exercícios enquanto assiste seu programa de TV favorito. E limite o consumo dos famosos salgadinhos,  bebidas adoçadas ou álcool nesses períodos. 

Fonte: Medical News Today

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