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Quase 42% dos brasileiros já pensaram em suicídio, mostra estudo

O percentual de brasileiros que declaram ter recebido diagnóstico de depressão aumentou 34,2% em seis anos - iStock
O percentual de brasileiros que declaram ter recebido diagnóstico de depressão aumentou 34,2% em seis anos - iStock

Redação Publicado em 10/09/2021, às 09h30

Quase 42% dos brasileiros afirmam já ter pensado em suicídio e 73% declararam conhecer alguém que esteja sofrendo com depressão no momento. É o que mostra pesquisa divulgada às vésperas deste Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, dentro do Setembro Amarelo, mês escolhido para chamar a atenção de todos para este tema sensível e que tem se agravado ainda mais desde o início da pandemia de Covid-19. 

O levantamento foi realizado pela Hibou, empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo, e contou com 2.179 brasileiros maiores de 18 anos que responderam de forma digital, entre 25 e 26 de agosto deste ano, garantindo 95% de significância e 2,1% de margem de erro nos dados obtidos.

Entre os entrevistados, 88,4% já orientaram alguém a buscar ajuda ao descobrir que a pessoa estava em sofrimento. Embora existam campanhas de conscientização, e se fale muito sobre transtornos emocionais, muitos ainda não entendem bem como a depressão pode afetar a vida de uma pessoa.

Para 94,2% dos brasileiros, a depressão é considerada uma doença; já 5,1% a veem como um estado de humor ou de espírito; para 0,6% é uma escolha de quem está depressivo; e para 0,1% é um humor passageiro. Entre os pesquisados, houve quase uma unanimidade: 99,3% acreditam que a depressão possa levar ao suicídio. O assunto é delicado, mas 94,1% das pessoas já ouviu alguém dizer algo como "isso é frescura" para alguém com depressão.

Muitos acreditam que a digitalização tem espaço neste cenário. Do total, 79,9% concordam que a solidão é o mal do século, mesmo vivendo em um mundo superconectado e repleto de redes sociais; e 46,8% admitem que o Instagram deixou as pessoas mais deprimidas.

Pensamentos que podem ser irreversíveis

Do total, 58,2% dos entrevistados nunca pensaram em tirar a própria vida. Para os que admitiram ter pensado sobre o assunto, isso ocorreu pela primeira vez por volta dos 26 anos. Mas 74,3% afirmam já terem superado esses pensamentos.

Com quem procuraram ajuda:

Dos 81,1% que buscaram ajuda médica e especializada para evitar os pensamentos suicidas:
-24,9% recorreram à psicologia;
-23% à psiquiatra;
-17,8% à terapia;
-15,4% buscaram acompanhamento médico;
-15,2% conversaram com amigos;
-11,4% conversaram com a família;
-9,5% procuraram grupos religiosos;
-3,5% buscaram centros de ajuda e grupos de apoio;
-2% conversaram com conselheiro profissional (fora da área médica);
-1,8% procuraram fóruns e grupos de ajuda na internet;
 -0,8% ligaram para o Disque 188 – CVV (Centro de Valorização à Vida).

Atenção aos sinais ou ausência deles

De todos os entrevistados da pesquisa da Hibou, 72,5% afirmaram que conhecem alguém que tentou ou concretizou o suicídio em algum momento - uma média de 2 pessoas, com idade média de 28 anos. Destes, 49,6% eram algum familiar ou amigo próximo; 33,6%, um familiar distante, conhecido; 27,6%, amigo de convivência; e 18,5% era um colega de trabalho. Para 71,4% o fato chegou a se concretizar pelo menos uma vez.

Ao observar os comportamentos das pessoas que atentaram contra a própria vida, os sinais - ou ausência deles - aconteceram de diferentes maneiras:
-32,9% não demonstraram;
-31,6% se afastaram de interações sociais;
-31,3%, demonstraram desinteresse de forma geral;
-29,6% ficaram mais silenciosos do que o normal;
-19%  dormiam muito;
-14,5% postaram sobre coisas relacionadas ao momento;
-10,3% tiveram conversas repetidas sobre o tema;
-9,8% falaram, buscaram conversar com alguém;
-9,5% ficaram sem tomar banho por vários dias;
-6,8% ficaram mais eufóricos que o normal.

As razões que levam as pessoas a tirar a própria vida são as mais variadas:
-35,4% desconhecem as razões;
-24,9% o motivo principal foi o fim de relacionamento amoroso
-24,3%, o sentimento de apatia ou falta de perspectiva de vida;
-17,8% não notavam correspondência às expectativas da família/amigos;
- 10% por serem vítima de bullying ou outra estigmatização social;
- 9,3% por estarem com dívidas;
- 8,8% sofreram morte na família;
-6,7% devido à orientação sexual;
- 6,1% por perda do emprego ou má performance escolar;
- 5,3% vítima de violência sexual ou doméstica;
- 4% por serem pacientes com doença crônica ou terminal.

Depressão não é frescura

Segundo dados da Pesquisa Nacional da Saúde, divulgada pelo IBGE no final de 2020, o percentual de brasileiros que declaram ter recebido diagnóstico de depressão aumentou 34,2% em seis anos. Para 66% dos entrevistados da pesquisa Setembro Amarelo 2021, da Hibou, a falta de perspectiva econômica e o desemprego estão no topo da lista entre os fatores que acreditam estarem contribuindo para o aumento do número de casos de depressão nos últimos anos.

O isolamento social - principal mudança na rotina de todos - foi mencionado por 61,3%, seguido pela falta de expectativa de vida e o excesso de informação, para 61,2%. Ainda na questão social, foram citadas as dúvidas existenciais (43,1%); as cobranças familiares (39,8%); o luto (35,6%); a queda na religiosidade (30,7%); as rixas entre amigos e família por causas políticas (11,3%).

O sedentarismo e a falta de exercícios também foram considerados fatores de aumento da depressão, por 26,8%, além dos hábitos alimentares modernos, por 7,5%. Além disso, o aumento do uso de internet e redes sociais foi citado por 48,2%; os jogos eletrônicos e RPGs, por 14,4%, e os conteúdos dos filmes e séries de televisão, por 8,8%. Fatores externos como mudanças climáticas e desafios ecológicos também foram citados por 4,5%.

Para encontrar ajuda em um momento de depressão:
-92,6% acreditam que apoio profissional, de psicólogo ou psiquiatra, é o canal mais viável;
-40,3% acreditam em conversa com familiares;
-39% centros de ajuda/grupos de apoio;
-30,8% em conversas com os amigos;
-24,2, apoio de outro conselheiro profissional;
-17,7% apoio de um líder religioso;
- 9,7% Disque 188;
- 5,8% fóruns e grupos de ajuda na internet;
- 0,4% em nenhuma das alternativas.

De forma geral, os respondentes afirmaram que:
-95,5% concordam que a busca por apoio como terapia, é o caminho para resgatar a autoestima.
-91,9%, concordam que a família é essencial na busca pela melhora;
-91,7%, acreditam que o ombro amigo é um abraço no momento da crise;
-85,9% acreditam que dividir os problemas com amigos ajuda;
-50,4% afirmam que existe melhora com medicamentos;
-28,2% concordam que todo depressivo é triste;
- 7,1% concordam que quem fala em se matar só quer chamar atenção;
- 6,1% estar depressivo é sinônimo de fraqueza.

Umas das formas mais práticas de buscar apoio, seja para você ou para alguém que conheça e possa estar procurando ajuda, é entrando em contato com o CVV (Centro de Valorização da Vida). O serviço é gratuito e oferece auxílio emocional 24 horas. O atendimento é realizado em sigilo total, por meio de telefone (188), e-mail, chat ou ainda pessoalmente. Os canais e endereços estão disponíveis no site.

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