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28% das mulheres de baixa renda sofrem com a pobreza menstrual

A pobreza menstrual afeta cerca de 11,3 milhões de mulheres brasileiras de baixa renda - iStock
A pobreza menstrual afeta cerca de 11,3 milhões de mulheres brasileiras de baixa renda - iStock

Redação Publicado em 15/09/2021, às 19h30

A pobreza menstrual é um problema que ainda afeta milhões de mulheres ao redor do mundo, sendo uma questão que ultrapassa a falta de dinheiro para comprar absorventes ou outro tipo de produto de higiene menstrual. Ela também toca em pontos mais profundos, como a falta de acesso à água e ao saneamento básico e a desigualdade social. 

Com o objetivo de levantar informações do grau de conhecimento sobre o fenômeno da pobreza menstrual, bem como identificar os hábitos e trazer visibilidade ao assunto, a SEMPRE LIVRE® realizou uma pesquisa e descobriu que 28% das mulheres de baixa renda são afetadas diretamente pela pobreza menstrual e 30% conhecem alguém que convive com o problema. 

De acordo com a equipe envolvida no projeto, é muito importante promover a discussão sobre os fluidos vaginais e eliminar tabus que os cercam. Além disso, falar abertamente sobre a saúde íntima é essencial para que as pessoas que menstruam consigam entender melhor o funcionamento do próprio corpo. 

4 em cada 10 convivem com o problema 

Para o estudo, participaram 814 mulheres que menstruam regularmente de 14 a 45 anos, todas representantes das classes C e D. Entre as principais descobertas estão: 28% das participantes são afetadas diariamente pela pobreza menstrual – o equivalente a cerca de 11,3 milhões de brasileiras – e 30% conhecem alguém que sofre com essa condição. 

Em outras palavras, quatro em cada 10 mulheres convivem com o tema, pois, ou são diretamente impactadas, ou têm alguma conhecida que é. Além disso, 94% dizem não saber qual o conceito de pobreza menstrual, ou seja, não são capazes de identificar quando estão vivendo uma realidade de vulnerabilidade. Esse cenário é ainda mais comum entre as mulheres mais velhas da região Centro Oeste e Sul.  

Apenas 29% das participantes contaram já ter ouvido falar sobre o tema e somente 6% declararam saber bem o que é. Nesse caso, são mulheres mais jovens, de classe DE, do Sudeste e Norte. 

Uma boa parcela das mulheres afetadas pela pobreza menstrual (40%) tem entre 14 e 24 anos, dado que mostra que o problema atinge, especialmente, as meninas mais novas

Outro fator importante levantado pela pesquisa foi que a pandemia piorou a situação: 29% contaram enfrentar dificuldades financeiras nos últimos 12 meses para conseguirem comprar produtos de higiene menstrual e 21% enfrentam impedimentos todos os meses. 

Inclusive, muitas mulheres que convivem com a questão da pobreza menstrual acabam recorrendo a produtos não indicados na tentativa de absorver a menstruação. Sacos plásticos, filtros de café, toalhas, lencinho umedecido, algodão, roupas velhas, papel higiênico, jornal e, até mesmo, miolo de pão, são alguns exemplos. 

A saúde física também é afetada 

A pobreza menstrual reflete diretamente a saúde física das pessoas que menstruam. De acordo com os resultados da pesquisa, muitas mulheres que sofrem com o problema apresentaram questões vaginais no último ano: 28% tiveram infecção urinária ou cistite; 24% tiveram candidíase; 11% infecção vaginal por fungo e 7% infecção vaginal por bactéria.

Para 51% das mulheres, o mal-estar na menstruação é forte. Apesar do método de proteção mais usado ser o anticoncepcional, 77% disseram nunca ter emendado a cartela da pílula para pular o período menstrual, 7% admitem que fizeram isso algumas vezes quando estão sem dinheiro para comprar absorvente e 11% adotaram esse procedimento com o acompanhamento médico.  

Além disso, mesmo com o índice alto de informação sobre a primeira menstruação, 36% concordaram não saber muito bem o que acontece com o próprio corpo durante o período menstrual. 

Confira:

Impactos na saúde mental 

A pobreza menstrual também pode trazer consequências psicológicas para as pessoas que menstruam. Segundo os dados, 22% das mulheres se sentem muito frágeis ao menstruar, porque no local onde moram não têm acesso a condições adequadas para a higienização. Muitas, por exemplo, não têm banheiro dentro de casa (9%).

Entre as participantes, 8% contaram que sempre ou quase sempre faltaram ao trabalho quando estavam menstruadas porque o banheiro é muito sujo e não tem condições de uso (sem água, descarga ou papel higiênico). 

Da mesma maneira, 12% afirmam que sempre ou quase sempre precisaram deixar de ir ao trabalho por estarem com forte mal-estar menstrual e o chefe dizer que isso é "mimimi de mulherzinha". 

Além disso, 52% acreditam que "menstruar dita um pouco a nossa dignidade, porque, além de ter algum mal-estar, parece que estamos sujas" e 6% já sofreram violência doméstica por estarem menstruadas.

Os estudos também são impactados

Muitas meninas justificam a ausência na escola pela falta de absorvente adequado ou de estrutura para acolhê-las nos dias em que estão menstruadas:

  • 16% disseram que sempre ou quase sempre já deixaram de ir à escola quando estavam menstruadas porque o banheiro é muito sujo e não tem condições de uso;
  • 12% contaram que sempre ou quase sempre não foram à aula quando estavam menstruadas por não estarem com absorvente ou com algum absorvente improvisado;
  • 38% concordaram que: "Quando tenho que ir à escola menstruada fico péssima, porque na minha escola o banheiro não tem condições adequadas para esses períodos: nem sempre tem água ou papel higiênico".

Quanto custa menstruar? 

De acordo com os dados, o gasto médio mensal com produtos para menstruação é de R$ 21,00. De cada 10 mulheres, duas apresentam dificuldades para comprar esses itens e 21% declararam não conseguir adquiri-los todos os meses ou tipicamente há um ano (12%). 

A frase: "Não tenho dinheiro nem para menstruar, nem sempre consigo comprar absorvente" fez sentido para 16% das participantes e 18% disseram que "menstruar é uma das maiores dificuldades em minha vida; não tenho condições financeiras para me cuidar como se deve nesse período".

Apesar de tudo, uma parcela considerável concorda que a menstruação é um sinal de saúde: 63% gostam quando menstruam porque é um sinal de que o corpo está funcionando bem e 54% acreditam que menstruar é um ciclo natural e o consideram algo muito bom.

Os dados mostram que a maioria das mulheres de baixa renda (classe CDE), de 14 a 45 anos, lida relativamente bem com o próprio corpo e sabe que a menstruação é um sinalizador de saúde, embora sofra com os incômodos característicos: desde cólicas até a instabilidade de humor. Ao atentar-se às camadas de mulheres menos favorecidas, existe também o impacto econômico que a menstruação acarreta com a compra de absorventes.

Mantenha-se informada

A SEMPRE LIVRE® desenvolveu uma plataforma chamada #TamoJuntas com o objetivo de facilitar o acesso das pessoas às informações sobre dignidade menstrual, bem como novos dados sobre o assunto e o lançamento do Mapa da Liberdade, uma página que irá concentrar todos os projetos sociais e ONGs do Brasil que trabalham em prol do combate à pobreza menstrual para ajudar a conectar pessoas que querem apoiar e abraçar essa causa. 

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