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Como garotos e garotas encaram o machismo e o empoderamento feminino

Imagem Como garotos e garotas encaram o machismo e o empoderamento feminino

Jairo Bouer Publicado em 14/10/2019, às 16h55 - Atualizado em 23/10/2020, às 18h43

Movimentos de combate ao machismo e ao assédio sexual tomaram conta das redes sociais no Brasil e em diversos outros países nos últimos anos. Há mais mulheres em posição de destaque em empresas e cargos públicos, e a desigualdade de salários entre os sexos vem ganhando destaque na mídia. Será que tudo isso tem feito garotos e garotas terem percepções diferentes sobre igualdade de gênero?

Aparentemente, adolescentes do sexo feminino estão mais confiantes de que podem brilhar em cargos de liderança, apesar de ainda acreditarem que o sexismo é um problema sério, algo que os colegas do sexo masculino não valorizam muito. É o que mostra um levantamento com mais de 1.000 jovens norte-americanos de 10 a 19 anos que acaba de ser divulgado pela Plan International USA, uma organização independente voltada para a igualdade de direitos das crianças.

Quase todos os adolescentes ouvidos (92%) disseram acreditar em igualdade de gênero. Mas garotos e garotas ainda enxergam as coisas de forma diferente: apenas metade dos jovens do sexo masculino diz querer a mesma proporção de homens e mulheres líderes, enquanto 64% delas consideram isso muito importante. E 54% deles admitem se sentir mais confortáveis com mulheres assumindo papéis tradicionalmente femininos, como cuidar das crianças e da família. Se para metade das garotas ainda existe muito sexismo por aí, apenas 19% dos rapazes pensam o mesmo.

Infelizmente, as pressões ligadas a gênero ainda são uma realidade, e as redes sociais parecem ter um papel importante nesse sentido. Dois terços das garotas dizem que são expostas várias vezes por semana a imagens de corpos femininos nada realistas na mídia, sendo que metade das entrevistadas comentou que se olhava no espelho pelo menos uma vez ao dia e pensava como é que os outros iriam julgar seus corpos.

Sete em cada dez garotas de 14 a 19 anos contam que são vistas como objeto sexual de vem em quando, sendo que oito em dez contam que já receberam convites de garotos para enviar “nudes”.  Quase metade delas diz que ouve comentários de cunho sexual dos amigos todo os dias.

Mas a vida também não é fácil para os garotos. Sete em cada dez sentem pressão para serem fisicamente fortes; metade dos mais velhos diz se sentir forçado a revidar com um soco caso algum colega venha com provocação, e cerca de um em cada três meninos mais novos sentem o mesmo. Mais de 80% confidenciam já ter ouvido de alguém que estavam “agindo feito meninas” ao demonstrar sensibilidade.

A maior parte dos entrevistados acredita que fazer comentários e piadas sobre garotas é algo esperado deles. E os entrevistados acreditam que não tem problema pedir para as meninas mandarem fotos sensuais a eles, já que todos os amigos fazem o mesmo, e também porque todos eles estão acostumados à pornografia na internet.

Um dos resultados que eu considero mais sugestivos, da pesquisa, é que uma em cada três garotas de 14 a 19 anos conta já ter ouvido comentários ou piadas sexuais sobre mulheres de homens da família, sendo que, para 18% delas, o autor era o pai. Mas veja só: quase metade dos rapazes relata ouvir esse tipo de piada em casa. Ou seja: a cultura machista ainda é perpetuada de pai para filho. Aí fica difícil mudar as coisas.