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Você já ouviu falar em phubbing? Mas já deve ter praticado

Muitas pessoas ignoram os outros enquanto mexem no smartphone; isso é o "phubbing" - iStock
Muitas pessoas ignoram os outros enquanto mexem no smartphone; isso é o "phubbing" - iStock

Talvez você nunca tenha ouvido falar nessa palavra, porém, certamente já praticou o phubbing ou foi vítima dele. A palavra “phubbing” é resultado da junção de “ph” de phone (telefone) + “ubbing” de snubbing (esnobar). O dicionário australiano Macquarie criou esse neologismo para descrever o comportamento que muitas pessoas adotam ao ignorar os outros enquanto mexem no celular.

Em 2022, praticamente tudo que envolve tecnologia está compactado no celular. Redes sociais, aplicativos de banco, plataformas de música e até paqueras estão ali a um dedo de distância na palma da mão. Com a pandemia, quase todas as pessoas passaram a ficar mais tempo conectadas e em frente aos eletrônicos tanto que até alguns desenvolveram a chamada fadiga de telas. Ou seja, se em 2013, quando o comportamento de ignorar tudo que estava no entorno ao acessar o celular já incomodava, imagine nos dias atuais com o hábito permanente de permanecer conectado e dividir tudo com centenas de pessoas através de stories e coisa do gênero.

Tem hora para tudo

Mães, mundo à fora, já diziam: tem hora para tudo! No dia a dia, no trabalho ou na faculdade, em tempos de home-office e EAD, as telas são aliadas para o desenvolvimento pessoal e a conexão com os demais. Porém, em uma mesa de jantar com outras pessoas num tempo dedicado a vocês, não faz sentido ficar mexendo no celular enquanto todos estão ali. E isso é um efeito manada: quando um pega o smartphone, outros pegam também. Daí ninguém conversa mais e todos passam a viver um mundo que não está ali naquele instante ignorando por completo a possibilidade de poder criar mais do que um story bonitinho, mas sim momentos memoráveis na mente e no coração, para além da galeria do celular.  

Há alguns anos, eu e meu amigo Adriano fomos almoçar em um restaurante ali na Rua Maria Antônia, em São Paulo, e nem sei quanto tempo permanecemos ali. Quando estávamos quase levantando para irmos embora, uma senhora veio em direção a nossa mesa e disse: parabéns! Não entendemos. Ela explicou: eu fiquei observando vocês há um tempão e vocês se divertiram tanto que sequer pegaram no celular. Hoje eu consigo, de fato, entender isso!

Você é capaz?

Eu desafio você permanecer durante 30 minutos sem tocar no celular e conversando com seus amigos ou familiares. Você seria capaz de sustentar um diálogo saudável? Teria assunto para dividir com eles? Conseguiria curtir um momento sem ter que mostrar para um monte de gente que não está nem aí para aquilo que vocês fazem ali?

Equilíbrio

Isso não é um movimento “anti-celular” até porque é impossível nos dias atuais, mas sim uma provocação com o intuito de fomentar a reflexão sobre como dedicamos nosso tempo quando estamos entre pessoas em determinados ambientes. Não é saudável, tampouco elegante, ficar com a cara enfiada no celular enquanto seus amigos estão querendo conversar, muito menos durante um atendimento de um paciente ou diante de um aluno com dúvidas, por exemplo. Equilíbrio para dar atenção a todos: os presentes e os virtuais.

Atenção

Eu espero que você esteja lendo esse texto em uma hora e lugar apropriados e que não esteja ninguém esperando você terminar de ler para pedir o que vão comer... Se você estiver em um restaurante ou coisa do gênero: largue isso agora (mas volte depois).

Anderson José

Anderson José

Estudante de medicina na Ufac (Universidade Federal do Acre), autor do podcast Farofa Médica e da página de Instagram @oiandersao