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Problema não é publicar selfies, mas investir tempo demais nisso

Imagem Problema não é publicar selfies, mas investir tempo demais nisso

Jairo Bouer Publicado em 19/02/2020, às 16h21

Muitos pais ficam preocupados com a exposição exagerada das filhas nas mídias sociais. O ritual envolve produção, maquiagem, fotos em diversos ângulos, teste de filtros, retoques com ajuda de aplicativos e, depois da postagem, as checagens constantes para ver quem curtiu ou comentou. Mas será que esse culto à aparência é saudável?

Um grupo de pesquisadores da Universidade do Arizona, nos EUA, entrevistou 278 garotas de 14 a 17 anos para tentar responder a essa dúvida. Eles concluíram que a mania das selfies veio para ficar e, de modo geral, não deve ser vista como um problema pelos pais, exceto quando o tempo investido na atividade e a preocupação com as avaliações dos outros parecerem excessivas.

Segundo a equipe, coordenada pela professora Jennifer Stevens Aubrey, garotas que passam horas investindo na produção da “selfie perfeita” e na edição das imagens têm uma tendência à “auto-objetificação”. Isso significa que elas internalizam a ideia de que são um objeto para ser visto e admirado, o que pode levar a problemas de autoimagem, ansiedade, depressão e transtornos alimentares.

Em artigo no Journal of Children and Media, os pesquisadores explicam que garotos também podem passar por isso, mas o fenômeno é mais frequente entre as garotas. Assim como é mais comum que elas publiquem fotos com foco exclusivo na aparência, e não na experiência (como é o caso de quem publica selfies em passeios, festas ou viagens).

Outro estudo publicado em janeiro deste ano no periódico Sex Roles trouxe conclusões parecidas. Ao entrevistar 164 estudantes do sexo feminino, pesquisadores da Universidade Mary Washington, encontraram sintomas depressivos e auto-objetificação naquelas que tiravam dezenas de selfies antes de publicar no Instagram e abusavam da edição das imagens.

Cerca de 93 milhões de selfies são publicadas a cada dia no mundo, de acordo com uma estimativa da Google. Claro que os adolescentes querem publicar as suas. Testar aplicativos que apagam espinhas e afinam o rosto pode ser muito divertido, e ninguém precisa se privar dos prazeres da tecnologia. Mas se isso virar obsessão, vale a pena lembrar que há coisas mais importantes do que a aparência.