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Para mulher parar de fumar é mais difícil; estudo pode explicar razão

Mulheres são mais propensas a ficar dependentes de nicotina - iStock
Mulheres são mais propensas a ficar dependentes de nicotina - iStock

Um circuito cerebral recém-descoberto pode explicar por que as mulheres tendem a se viciar em nicotina mais rapidamente do que os homens. Os resultados do estudo foram apresentados na reunião anual da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular.

Fumar continua sendo uma das principais causas de doenças e mortes evitáveis. Só nos EUA, há mais de 480 mil mortes pelo tabagismo por ano, de acordo com os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA. No Brasil, 443 pessoas morrem a cada dia pela mesma causa. 

Em 2021, aproximadamente 11% dos adultos norte-americanos relataram fumar cigarros, sendo os homens ligeiramente mais propensos a fumar do que as mulheres. Já aqui, os dados mais recentes do ano de 2019, a partir da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) apontam o percentual total de adultos fumantes em 12,6 %, sendo 15,9% homens e 9,6 mulheres.

No entanto, embora menos mulheres fumem, estudos indicam que as mulheres são mais propensas a desenvolver dependência em nicotina e isso acontece mais rápido e com exposições mais baixas à substância.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o tabagismo entre os homens brasileiros vem diminuindo, enquanto que entre as mulheres tem se mantido estável.  

"Estudos mostram que as mulheres têm uma propensão maior a desenvolver dependência em nicotina do que os homens e têm menos sucesso ao tentar parar", afirma Sally Pauss, aluna de doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade de Kentucky, nos EUA, que liderou a pesquisa.

O papel do estrogênio

Uma diferença clara entre homens e mulheres é a quantidade de estrogênio que elas possuem. Portanto, os pesquisadores vasculharam uma grande biblioteca de genes conhecidos por serem ativados por esse hormônio, especificamente aqueles expressos em nossos cérebros.

Apenas uma classe de genes candidatos atendia a esses critérios: aqueles que codificam um grupo de proteínas chamadas olfactomedinas, que desempenham uma variedade de papéis no desenvolvimento do sistema nervoso. Os pesquisadores, então, realizaram uma série de estudos com células uterinas humanas e de ratos para entender melhor as interações entre olfactomedinas, estrogênio e nicotina.

Eles descobriram que o estrogênio ativa as olfactomedinas, que, por sua vez, são suprimidas na presença de nicotina em áreas do cérebro envolvidas em recompensa e dependência. Em outras palavras, esse intermediário da olfactomedina poderia estar levando os indivíduos a procurar nicotina para satisfazer esses circuitos de recompensa.

Descoberta pode levar a tratamento

"Se pudermos confirmar que o estrogênio impulsiona a busca e o consumo de nicotina através de olfactomedinas, podemos projetar medicamentos que possam bloquear esse efeito, direcionando as vias alteradas", acredita Pauss. Isso poderia facilitar a interrupção do tabagismo.

Esse conhecimento poderia ser particularmente útil para quem toma estrogênio na forma de contraceptivos orais ou faz terapia de reposição hormonal, o que, em tese, poderia aumentar o risco de desenvolver um transtorno de uso de nicotina.

Tatiana Pronin

Tatiana Pronin

Jornalista e editora do site Doutor Jairo, cobre ciência e saúde há mais de 20 anos, com forte interesse em saúde mental e ciências do comportamento. Vive em NY e é membro da Association of Health Care Journalists. Twitter: @tatianapronin